Está inscrito no nosso DNA:
precisamos trabalhar. Para o bem da saúde e aprimoramento da mente precisamos
trabalhar. Os músculos e o cérebro foram programados para o movimento, necessitam
de exercício para se manterem sadios. É de tal modo, que mesmo quando chega o
momento de parar de trabalhar, a sonhada ou temida aposentadoria, se descobre
que para sobreviver é preciso buscar atividades alternativas. E lá se vai a
criatura, toda faceira ou completamente contrariada, fazer força e puxar ferros
numa academia. A luta continua, apenas muda a briga que passa a ter como
objetivo manter os músculos e as forças. Alforriados de bater ponto no emprego,
o serviço agora é fazer caminhadas, andar de bicicleta ou se dedicar a qualquer
coisa para gastar energia e manter ativo o sistema corporal, mantendo também a
cabeça ocupada. Se parar as atividades e
ficar da cama para a poltrona alguma doença é resultado certo. Decididamente,
não fomos planejados para o ócio estático.
Trabalhar faz parte natural da vida.
No dia 1º de maio se celebra o trabalho e as conquistas do trabalhador. Infelizmente,
o trabalho como forma de sobreviver está cada vez menos valorizado. O poder do dinheiro,
a força do capital está dizimando os ganhos de quem honestamente labuta. Esse é um fenômeno global, mas a desqualificação
por aqui nasceu antes, remonta desde uma colonização feita às custas do
sofrimento da escravização de negros e da insubordinação dos índios e foi se perpetuando,
mudando apenas a forma de apresentação. Foram quatro séculos de escravatura e
ainda hoje se arrastam marcas desse passado sombrio. Como um monstro que revive
depois das cinzas, sistemas escravagistas continuam a assombrar muitas vidas em
nosso país, com condições de trabalho indignas e jornadas estafantes.
Evoluímos mas continuamos a
arrastar as pesadas correntes da desigualdade principalmente no campo do
trabalho. Marcados com a sina de ser o país da esperteza, do mínimo esforço e
do máximo resultado, chegamos a este 1º de maio sem ter o que comemorar, sem o
alento de alguma boa notícia. Reclamações ecoam por todos os lados: da
desvalorização do dinheiro, da crescente inflação e desemprego, dos abusivos aumentos
de impostos, das ameaças de falta de pagamento de aposentadorias. E nós, os que têm vozes para bradar ainda
estamos de algum modo protegidos pelo sistema e suas leis, nem nos damos conta
de tudo o que acontece aos mais desfavorecidos, àqueles que nem vozes têm para
falar.
Fortes conglomerados empresariais
e requintadas grifes famosas se apropriam de mão de obra em condições de
escravidão, se utilizam dos serviços de pessoas que trabalham em condições
subumanas. Muitas vidas são transformadas em barata e descartável mão de obra. Paradoxo
desse tempo de tecnologia de ponta, mas acumulação de riqueza e aprofundamento
das desigualdades sem precedentes.
Nesse nebuloso cenário é difícil,
mas indispensável resgatar o valor do trabalho. A profissão nos define como
adultos, cola a nossa personalidade, ao nosso nome, a nossa história. Sem seu
trabalho, o homem não tem honra. E sem a sua honra, se mata, não dá para ser
feliz, como dizia o sábio Gonzaguinha. Portanto, apesar de todas as circunstâncias: Viva
o trabalho!
(publicada Jornal Agora - em 02/05/2015)
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