domingo, 5 de fevereiro de 2012

As Almas e O Diabo

     Atendendo às ordens do mercado, guiado pela cruel lei de oferta e procura, o diabo parece estar oferecendo cada vez menores preços pelas almas que arrebanha. Aja visto o que estão fazendo as pessoas, as trocas que estão aceitando, o preço das almas deve estar no mais baixo patamar da história.

     Hoje se entrega a alma para trocar o carro novo por outro novo, quase igual, mas que é capaz de insuflar o ego de orgulho. Troca-se a alma para subir meio degrau na escalada profissional e ter um quinhão da ilusão de importância. Penhora-se a alma para aparecer na foto da crônica social ou para um instante de fama que dura o fulminante piscar de um flash. Por paixão ao dinheiro, a fama, ao sucesso ou a amores passageiros, se hipoteca dias e noites, meses e anos da existência.   Estão valendo muito pouco as almas!

     Talvez seja efeito das más influências, que proliferam por todos os lados. Ganâncias escabrosas invadem o imaginário coletivo, inspiradas nos maus exemplos reais ou fictícios.  Eminências pardas se multiplicam em todas as esferas de poder, traficando interesses sem pudor ou mínimo sinal de constrangimento.  O vale tudo por dinheiro inspira novelas e programas de televisão. É mais do que necessário, é imperativo comprar, ganhar, aparecer, ter sucesso ou fazer de conta de que tem.

     O diabo, senhor dos desejos e dos impulsos, não é mais aquela figura macabra e asquerosa. Foi-se o tempo em que cheirava a enxofre e atemorizava. Perambula pelas ruas, perfumado e bem vestido.  Em vez de assustar com ameaças, agora seduz com lindas promessas.  Deve ter feito algum curso de marketing pessoal. Aprendeu que o ser humano é muito mais refém dos desejos do que dos medos. É pelo fascínio que se atrai a presa, sem precisar esforço ou luta. Sem ferro e nem fogo, vai angariando reféns voluntários, seguidores encantados com as fantasias de objetos de consumo, com as ilusões da vaidade.  E a vida, que para ser bela, só precisa ser simples, se torna cada vez mais complicada e mais cara.  É preciso trabalhar dobrado, refinanciar a existência, para continuar a roda viva das ilusões, enquanto o senhor diabo se diverte: nunca foi tão fácil sua existência.


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