Hoje se entrega a alma para trocar o carro novo por outro novo, quase igual, mas que é capaz de insuflar o ego de orgulho. Troca-se a alma para subir meio degrau na escalada profissional e ter um quinhão da ilusão de importância. Penhora-se a alma para aparecer na foto da crônica social ou para um instante de fama que dura o fulminante piscar de um flash. Por paixão ao dinheiro, a fama, ao sucesso ou a amores passageiros, se hipoteca dias e noites, meses e anos da existência. Estão valendo muito pouco as almas!
Talvez seja efeito das más influências, que proliferam por todos os lados. Ganâncias escabrosas invadem o imaginário coletivo, inspiradas nos maus exemplos reais ou fictícios. Eminências pardas se multiplicam em todas as esferas de poder, traficando interesses sem pudor ou mínimo sinal de constrangimento. O vale tudo por dinheiro inspira novelas e programas de televisão. É mais do que necessário, é imperativo comprar, ganhar, aparecer, ter sucesso ou fazer de conta de que tem.
O diabo, senhor dos desejos e dos impulsos, não é mais aquela figura macabra e asquerosa. Foi-se o tempo em que cheirava a enxofre e atemorizava. Perambula pelas ruas, perfumado e bem vestido. Em vez de assustar com ameaças, agora seduz com lindas promessas. Deve ter feito algum curso de marketing pessoal. Aprendeu que o ser humano é muito mais refém dos desejos do que dos medos. É pelo fascínio que se atrai a presa, sem precisar esforço ou luta. Sem ferro e nem fogo, vai angariando reféns voluntários, seguidores encantados com as fantasias de objetos de consumo, com as ilusões da vaidade. E a vida, que para ser bela, só precisa ser simples, se torna cada vez mais complicada e mais cara. É preciso trabalhar dobrado, refinanciar a existência, para continuar a roda viva das ilusões, enquanto o senhor diabo se diverte: nunca foi tão fácil sua existência.
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