domingo, 25 de julho de 2010

A Nova Alma Riograndina



“Assim como cada época, por mais lamentável que seja, se julga mais sábia que as precedentes; assim também a cada idade de um homem, esse julga-se superior ao que fora antes; enganam-se ambos muitas vezes”. (in Sabedoria da Vida, Shopenhauer)


Rio Grande foi o berço deste Estado, já foi capital no tempo da província, já foi muita coisa e depois adormeceu. A partir dos anos 50-60 do século passado, só se viu esta terra minguar com o desaparecimento do parque industrial que sustentava sua economia. Foram-se as fábricas e todas as gerações nascidas desde então se tornaram – de algum modo – órfãs da Swift e das grandes empresas que deixaram de existir. As histórias de muitas famílias demonstram efeitos de longo prazo derivados do fechamento daquele ciclo, sucedido por décadas de desesperança.

Adquirimos maus hábitos em função deste dramático colapso coletivo: tornamo-nos negativos, pessimistas, ranzinzas e até um tanto invejosos dos sucessos alheios. O espírito riograndino, que fora pioneiro, obscureceu-se. Deixou-se de acreditar que pudesse aqui alguma coisa dar certo e, em vez de apostar no futuro, semeando bons projetos, fez-se deste um chão de lamentações.

De repente, quando já quase ninguém acreditava, abriu-se um novo ciclo. Da sombria Terra do Já Tivemos para o alvorecer do novo tempo que estamos vivendo há um saldo imenso, mas também uma grande oportunidade de sacudir a poeira da desesperança, de renovar o ânimo, de tornar outra a alma desta cidade. É, os lugares têm alma, energias coletivas que qualquer pessoa medianamente sensível percebe: há cidades amistosas, acolhedoras; outras hostis, frias; cidades tensas e cidades tranqüilas. E Rio Grande, que tinha uma alma sombria, vive a oportunidade de renascer com outro espírito. Está surgindo uma nova cidade. A transformação está nas ruas e também nas pessoas; é realidade vista e vivida, para espanto dos pessimistas.

Há muito por fazer, ainda estamos na fase dos ensaios e dos erros. A cidade pulsa nervosa com tantas novidades, mas reage ranzinza diante das primeiras dificuldades, absolutamente naturais do processo. É como se quisesse as mudanças, mas não desejasse mudar.

Pois é hora de repensar essa nova cidade e refletir que somos nós, cada um dos que aqui vivem, que poderemos fazer deste um lugar melhor para se viver, aproveitando positivamente as transformações. Ou podemos persistir nos agarrando ao ânimo derrotista de até então e apostar nos aspectos negativos - pois estes naturalmente também existirão. Neste último caso, continuaremos a ladainha de lamúrias.

O bom senso diz que podemos – e devemos - instaurar um clima melhor, olhando positivamente o que está sendo feito e criticando apenas de modo construtivo o que precisar ser corrigido; sendo mais tolerantes, mais solidários, mais gentis e até mais simpáticos. Para nos tornarmos – individual e coletivamente – melhores do que já fomos temos que exercitar nossas virtudes, nossas qualidades positivas e corrigir nossos erros; sem tal esforço, apenas reeditaremos nossos velhos problemas.

sábado, 10 de julho de 2010

Perdemos. Óbvio!

                                                                         

“... assim como hoje o povo do Brasil usa a força
do  pensamento de modo pouco eficaz,
com a esperança de obter metas futebolísticas
e de escassa importância real, no futuro
o mesmo povo poderá usar essa força
para superar seus desafios culturais,
econômicos, sociais e ambientais.” [1]

Perdemos, pois nem sempre se pode ganhar. Óbvio.

Perdemos, porque o time adversário estava vivo, correndo no campo, jogando, disputando a bola e mirando o gol. Óbvio

Perdemos, posto que para fazer um gol, além do talento, há de se ter um sopro de certeira boa sorte. Assim como a bola por um triz entra, por outro triz fica de fora da trave que separa o sucesso do fracasso. No placar não são contados os quase gols. Óbvio.

Perdemos, porque há variados talentos, esforços e sortes distribuídos em todas as nacionalidades; não são patrimônios exclusivamente brasileiros. Óbvio.

Perdemos porque não se pode ganhar sempre o jogo, e era só um jogo. Óbvio.

Tudo isto absolutamente óbvio. Pois estas obviedades trazem lições para a vida, ou podem trazer se forem analisadas. Muita sabedoria está assim, ao alcance de quem observa aquilo que lhe salta aos olhos. A vida é generosa em situações óbvias, mas a mente desatenta não as enxerga. Absorta em milhares de distrações, pouco reflete e vai perdendo preciosas oportunidades de aprender, de evoluir.

As vivências cotidianas só nos servirão de lembranças se estiverem ligadas a algum aprendizado e aprendemos muito mais coisas com as derrotas do que com as vitórias. Porém, se buscarmos nas prateleiras de uma livraria, encontraremos ampla variedade de títulos sobre o mesmo tema: receitas de sucesso. Se seguidos a risca todos os passos recomendados, raramente alcançamos o mesmo resultado dos autores destes livros.

O sucesso parece com aquela água que se vê ao longe sobre a estrada e que, ao nos aproximarmos, descobrimos ser apenas uma ilusão de ótica. Os sucessos – em quaisquer áreas - são fugazes, passageiros, perigosamente ilusórios. As glórias alcançadas costumam vir acompanhadas da traiçoeira fama, inspirando orgulho e vaidade; insuflando o ego com arrogante autoconfiança. Seu efeito mais danoso pode ser constatado nos percursos meteóricos de alguns conhecidos personagens do mundo das artes e dos esportes - carreiras promissoras destruídas pelos excessos de dinheiro e de fama.

Já as decepções, se bem aproveitados, são capazes de promover positivas transformações. As derrotas colocam as coisas no seu devido lugar: demonstram a fragilidade humana. Os fracassos são férteis semeadores de pensamentos virtuosos: humildade, autocrítica construtiva, reconhecimento do valor alheio, solidariedade.

Da recente frustração futebolística se podem colher vários aprendizados: a Copa do Mundo não era brasileira por antecipação; os bem pagos jogadores não são heróis e nem estavam a serviço da salvação da pátria. E a pátria amada Brasil tem coisas mais importantes para pensar e para resolver. Óbvio.

[1] Carlos Cardoso Aveline, O Brasil e a Força do Pensamento, http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=409