quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CHOVE CHUVA...

Publicada no Jornal Agora
Caderno Mulher Interativa
30/08/08

     "Chove chuva, chove sem parar", Jorge - o Bem Jor, pode até cantarolar, mas para essas bandas distantes do Equador esse chover sem cessar é bem pouco inspirador. Difícil cantar ou dançar na chuva, como Fred Astaire. É chuva demais, geralmente tocada a ventos uivantes. Não bastassem as águas e os ventos, volta e meia nos aterrorizam os presságios de chuva de pedras, o destruidor granizo. Sem termos a esperança de que o inverno nos brinde com a graça da neve, ainda somos apedrejados pelos céus. As paredes vertem água, como se chorassem. A vida se torna úmida, cinzenta, insalubre e vamos ficando também cinzentos, abatidos, mofados, amarfanhados, arroxeados... A umidade das ruas e o cinza do céu matizam nosso corpo. Não há como deixar de franzir a fronte, recolher-se, encolhendo o pescoço para dentro de golas e mantas. Como o cérebro só sabe o que está fora dele a partir dos sinais corpóreos e o que o corpo informa nesses dias é que a coisa está brava e o mar não está para peixe, nossa mente - ou nossa alma - se entristece.


     Resultado: no meio de tanta água e tanto frio, ficamos mais para desacorçoados cachorros molhados do que para saltitantes sapos faceiros.

     Após os intermináveis períodos chuvosos, não nos chega a bonança.

     Precisamos enfrentar semanas e mais semanas sombrias que de tão longas nos fazem esquecer a cor do céu e o brilho do sol. Convenhamos que na latitude-32° estamos muito mais próximos do preto-e-branco antártico do que da vida tecnicolor do país tropical. O corpo sofre realmente com a falta de luz dos dias chuvosos de inverno. Nosso relógio biológico perde a sincronia, produz menos serotonina, um hormônio ligado ao bem-estar e capaz de regular as oscilações de humor. Os dias curtos alongam a escuridão das noites estimulando a produção de melatonina, que é um indutor do sono e do relaxamento. A orquestra orgânica afunda o ânimo da maioria das pessoas. Naturalmente algumas sofrem mais do que outras, havendo aquelas que se abatem duramente, mergulhando na chamada depressão sazonal, que compromete de modo severo o dia-a-dia e merece receber tratamento específico. Mas para a maioria, o desconforto é superado no raiar do primeiro dia de sol, arejando o ânimo e trazendo de volta a disposição de vida. Intuitivamente buscamos a fototerapia natural: "lagarteamos" nos dias de sol, percebendo que a luz do dia nos traz de volta a energia perdida. Precisamos de luz para viver.

     Que bom que se foi o agosto! Que o setembro nos restitua as cores, a luz e a alegria de mais uma primavera.

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