Publicado no Jornal Agora
Caderno Mulher Interativa 24/05/2008
Li atentamente a matéria sobre a Mercearia Nossa Senhora da Rosa Mística, olhei as imagens e fiquei negativamente surpresa: estudantes universitários aproveitando ou forjando momentos de folga durante a semana para irem desestressar fumando, bebendo cerveja e jogando bilhar. Tudo muito natural para a geração lúdica, que veio ao mundo para se divertir embalada pelo mantra da Xuxa: “a vida é uma festa”.
A vida universitária é etapa final do processo de amadurecer. Depois ou se amadureceu ou caiu do galho. Esses moços, pobres moços, que jogam e bebem, quando deveriam estar devorando livros e discutindo teses, não sabem o que estão efetivamente fazendo. Insistem em pensar que cerveja é água e bilhar é jogo pedagógico.
O “bate ponto” diário ou freqüente no bilhar regado a álcool tem efeitos danosos. Bebidas alcoólicas são substâncias entorpecentes: enebriam, entorpecem o cérebro, dificultam e até impedem a consolidação da memória das informações recebidas em aula. Está cientificamente provado que o álcool limita a capacidade de resolver problemas, o pensamento abstrato, o desempenho motor, a memória e a capacidade de lidar com novas informações. Em suas várias formas, desde a cerveja (vendida com aparência de inocente refrigerante) à malvista cachaça, a substância afeta a química dos diversos neurotransmissores e tem ação depressora sobre o sistema nervoso central, comprometendo o papel integrador do córtex, desorganizando e tornando confuso o pensamento. Com o uso continuado, o risco é desenvolver tolerância – confundida como uma “resistência”: a pessoa bebe mais para ter os mesmos efeitos. Quando esta reação é notada, a pessoa não se tornou forte para o álcool, ela está se tornando perigosamente dependente da substância.
O jogar bilhar para espairecer em turnos que seriam de estudos colabora com mais alguns estragos. A memória, para consolidar o conhecimento, tornando-o disponível por longo prazo ou de forma definitiva, precisa passar por várias etapas. É necessária a ação eficiente de mecanismos químicos capazes de fixar as lembranças e torná-las acessíveis à evocação futura. Quando os jovens “espairecem” logo após terem aprendido novos conteúdos e passam horas preciosas jogando tempo e dinheiro fora, estão também desperdiçando o conteúdo que lhes foi apresentado em aula. É como se, após freqüentar algumas aulas, eles fossem fazer uma faxina cerebral, varrendo todo o material estudado, deixando o cérebro limpo, vazio de lembranças. Deliberadamente esquecem os conteúdos, desfazendo todos os rastros das informações recentes. É um procedimento oposto ao recomendado para quem pretenda ter aprendizagem eficiente. Para aprender é preciso retomar o material novo e revê-lo, algumas horas após ser estudado. Assim a memória fixa trilhas mentais que facilitam a evocação posterior.
Preocupa que estudantes universitários exponham seus cérebros aos perigosos efeitos do jogo, da nicotina e do álcool. Embora sejam hoje minoria no campus acadêmico, me parece que algo precisa ser feito para salvá-los e para que situações como essas não se tornem comuns.
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