quarta-feira, 23 de setembro de 2009

COMPROMISSO INDISSOLÚVEL

Caderno Mulher Interativa
16/02/2008
    Foi-se para bem longe o tempo em que indissolúvel era o matrimônio. Casamento se tornou um vínculo desfeito numa passagem rápida em cartório. Namoros então nem se fala – podem ser rompidos a distância, por e-mail ou um rápido torpedo de celular. Esta é a realidade líquida, de que fala Zigmund Bauman; uma realidade que se desfaz em sua forma e escorrega entre nossos dedos antes mesmo que se pisquem os olhos ou se possa fechar a mão. Tudo, não, quase tudo.


    Este também é o tempo do paradoxo, do absurdo, do contraditório. E o que acontece com a tal Fidelidade, algo difícil de exigir ou esperar dos amores como coisa definitiva, que vingue pela eternidade.

    Entretanto – os vínculos de fidelidade continuam existindo, só que migraram para a esfera dos contratos comerciais. Uma fidelidade irrompível, amarrada a prazo fixo. Sem juras, mas algumas promessas, firmamos alianças com empresas que depois não cumprem nada do oferecido e nos fazem descobrir que assumimos casamento a prazo fixo.

    A gente briga, xinga, bate pé, gasta horas ao telefone, mas o contrato está ali ou até está nem se sabe onde, pois foi feito virtualmente – este é o pior dos formatos. Não temos nada escrito, nem assinado, mas em algum momento nos telefonaram, prometendo o mundo e seus fundos e nós, naquele momento de impensada ingenuidade, acreditamos. Acreditamos e dissemos um sonoro sim, que dizem estar gravado em algum lugar e que agora nos compromete até uma data marcada. Mas, como piorar é sempre possível, ao final do tal prazo precisamos informar que desejamos romper o casamento, pois do contrário ele se tornará por prazo indeterminado e aí, talvez vigore até que a morte nos separe, ou até que nossa morte deles nos separe. A porca, seus porquinhos e descendentes torcem todos seus rabos... Estamos fritos! Os telefones para descontratar são diferentes daqueles utilizados quando da troca de alianças e por mais que se ligue, em todo e qualquer horário, não se consegue atendimento. Quando é possível é um tal de: “um momento, por favor, estaremos transferindo sua ligação”... “obrigada, senhora, pode nos confirmar seus dados”. E entre gentis gerúndios vamos sendo enrolados para ao final desistirmos da dissolução de nosso vínculo conjugal...

    É muito mais fácil se desfazer de um namorado ou marido do que romper esse tipo de casamento, por mais infiel que seja esse parceiro.

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