quarta-feira, 23 de setembro de 2009

NOCAUTE TÉCNICO

Caderno Mulher Interativa
10/05/2008
     Um dos atributos pessoais mais poderosos é a beleza física, tenho poucas dúvidas disto. Há critérios diferentes para o conceito de beleza, mas alguns modelos estéticos são hegemônicos, se impõem acima de todas as diferenças. A visão do belo entorpece os demais canais sensoriais e por vezes o próprio cérebro: diante dela, algumas pessoas (principalmente os homens) perdem momentaneamente até a capacidade de raciocínio. Poucos são os imunes ao impacto visual, por isso, costumo chamar de nocaute técnico a este poder da imagem. Para as mulheres o atributo da beleza física é moeda de ouro: abre portas e conquista empregos – independente das demais aptidões (muitas vezes). Quem é bonito, desse tipo de beleza que ninguém discute, causa alvoroço onde chega. Pode andar de chinelos de dedos, roupas amarfanhadas, cabelos desfeitos, nada disto importa: a criatura chega e causa efeito, deixando atrás de si um rastro de olhares.


     Se aliada à beleza estiver uma inteligência brilhante ou uma personalidade marcante, continuará o poder do encanto quando abrir a boca. Mas se não houver outros atributos, bastará saber manter a quietude, pois a falta dificilmente será notada.

     As pessoas belas – sejam homens, mulheres ou crianças – provocam admiração, inveja e até certa reverência, pois pela perfeição de suas formas parecem menos humanas do que os demais seres. Algumas teorias científicas muito antigas chegaram a ratificar a superioridade dos rostos perfeitos: haveria uma correlação entre linhas desarmoniosas da face e algumas patologias mentais, o que supostamente daria à harmonia da fisionomia um certo fator de proteção à doença mental. A relação entre cara feia e conduta criminosa foi muito estudada, depois caiu em total descrédito, mas recentemente voltou à baila. A ciência tem disto: de vez em quando desenterra hipóteses estudadas nos antanhos, com esperança de encontrar novas conclusões.

     O destino de uma pessoa pode ter sido determinado desde cedo por sua beleza física. Bebês muito bonitos, crianças lindas que despertam elogios por onde passam têm sua auto-estima regada abundantemente. O acréscimo de estima por si mesmo é capaz de inundar o ego com autoconfiança, promovendo uma autovalorização que funciona como poderoso e muito eficiente marketing pessoal.

     Há belezas que se esvaem pelos anos, algumas bem precocemente: crianças lindas podem se tornar “normais” na juventude ou até radicalizarem no sentido oposto. Belezura tem dessas coisas: às vezes amadurece, tornando-se ainda mais marcante, noutras desaparece sem deixar vestígio do belo antes existente. De qualquer modo, a sorte já fez sua marca e o bem está feito. Mesmo que as transformações do tempo alterem os efeitos do semblante, a auto-estima poderá ficar enraizada, gerando muitos bons frutos ao longo da vida. Os belos (e belas) continuam em vantagem em relação não apenas aos feios, mas ao grande grupo dos “normais”, aos quais restará recorrer às avançadas tecnologias estéticas, corrigir suas formas e conseguir, com esforço e caro custo, conquistar também alguns nocautes técnicos.

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