“Assim como cada época, por mais lamentável que seja, se julga mais sábia que as precedentes; assim também a cada idade de um homem, esse julga-se superior ao que fora antes; enganam-se ambos muitas vezes”. (in Sabedoria da Vida, Shopenhauer)
Rio Grande foi o berço deste Estado, já foi capital no tempo da província, já foi muita coisa e depois adormeceu. A partir dos anos 50-60 do século passado, só se viu esta terra minguar com o desaparecimento do parque industrial que sustentava sua economia. Foram-se as fábricas e todas as gerações nascidas desde então se tornaram – de algum modo – órfãs da Swift e das grandes empresas que deixaram de existir. As histórias de muitas famílias demonstram efeitos de longo prazo derivados do fechamento daquele ciclo, sucedido por décadas de desesperança.
Adquirimos maus hábitos em função deste dramático colapso coletivo: tornamo-nos negativos, pessimistas, ranzinzas e até um tanto invejosos dos sucessos alheios. O espírito riograndino, que fora pioneiro, obscureceu-se. Deixou-se de acreditar que pudesse aqui alguma coisa dar certo e, em vez de apostar no futuro, semeando bons projetos, fez-se deste um chão de lamentações.
De repente, quando já quase ninguém acreditava, abriu-se um novo ciclo. Da sombria Terra do Já Tivemos para o alvorecer do novo tempo que estamos vivendo há um saldo imenso, mas também uma grande oportunidade de sacudir a poeira da desesperança, de renovar o ânimo, de tornar outra a alma desta cidade. É, os lugares têm alma, energias coletivas que qualquer pessoa medianamente sensível percebe: há cidades amistosas, acolhedoras; outras hostis, frias; cidades tensas e cidades tranqüilas. E Rio Grande, que tinha uma alma sombria, vive a oportunidade de renascer com outro espírito. Está surgindo uma nova cidade. A transformação está nas ruas e também nas pessoas; é realidade vista e vivida, para espanto dos pessimistas.
Há muito por fazer, ainda estamos na fase dos ensaios e dos erros. A cidade pulsa nervosa com tantas novidades, mas reage ranzinza diante das primeiras dificuldades, absolutamente naturais do processo. É como se quisesse as mudanças, mas não desejasse mudar.
Pois é hora de repensar essa nova cidade e refletir que somos nós, cada um dos que aqui vivem, que poderemos fazer deste um lugar melhor para se viver, aproveitando positivamente as transformações. Ou podemos persistir nos agarrando ao ânimo derrotista de até então e apostar nos aspectos negativos - pois estes naturalmente também existirão. Neste último caso, continuaremos a ladainha de lamúrias.
O bom senso diz que podemos – e devemos - instaurar um clima melhor, olhando positivamente o que está sendo feito e criticando apenas de modo construtivo o que precisar ser corrigido; sendo mais tolerantes, mais solidários, mais gentis e até mais simpáticos. Para nos tornarmos – individual e coletivamente – melhores do que já fomos temos que exercitar nossas virtudes, nossas qualidades positivas e corrigir nossos erros; sem tal esforço, apenas reeditaremos nossos velhos problemas.
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