quarta-feira, 23 de setembro de 2009

MULHER SOLTEIRA, LIVRE E DISPONÍVEL

   Publicado Jornal Agora
Caderno Mulher Interativa
07/06/2008
    Se o título acima estivesse num anúncio de classificados seria lido como oferta de uma mulher sexualmente desfrutável. Entretanto, se trocarmos o gênero, a idéia ficará completamente diferente, pois um homem solteiro, livre e disponível aparece no senso comum como uma figura de homem livre e disponível para um relacionamento sério, duradouro. No imaginário coletivo, a figura de mulher solteira é completamente diferente daquela do homem solteiro. Ele é disputado no “mercado matrimonial”, valorizado socialmente como alguém que tem liberdade e pode dela tirar proveito. Já ela não escapa dos olhares enviesados e dos comentários desairosos à sua moral ou à sua conduta. Essa diferença de valor é reforçada pelos dados demográficos e não se refere tanto à falta numérica de elementos masculinos, mas à chamada “pirâmide da solidão”: a partir dos 30 anos de idade, há uma dificuldade cada vez maior das mulheres encontrarem um companheiro, o que não acontece com os homens. A diferença se acentua a tal modo que, aos 54 anos de idade, um homem tem trinta vezes mais chance de encontrar uma parceira do que uma mulher na mesma idade. Esse fato se deve a que, ao se emparelharem as idades, se verifica que mesmo havendo um equilíbrio no número de mulheres e homens na faixa etária, estes buscam parceiras muito mais jovens.


    Por uma série de fatores é cada vez maior o número de mulheres solteiras que moram sozinhas. As mulheres bem-sucedidas, que viajam, freqüentam bons restaurantes, compram roupas caras e se divertem com turma de amigas já formam uma nova casta feminina na Europa. Lá são conhecidas como Sarahs, sigla de “single and rich and happy” (solteira, rica e feliz). Pelas bandas de nosso jovem continente, apesar de haver muitas Sarahs e de sua visibilidade social, ainda perduram sobre elas conceitos estereotipados.

    Viver a vida no singular, sem formar par, não é tarefa fácil como pode parecer para alguns. A vida não é só festa e viagens. Há vantagens e desvantagens na situação. Para manter a independência é preciso dar conta de tudo, com autonomia em todos os sentidos. Há preços a pagar e vantagens a desfrutar. Quem está só escolhe roteiros, hotéis, faz tudo o que deseja, quando deseja, mas paga por isso. O preço, financeiramente falando, custa alto: a diária de hotel, por exemplo, é praticamente igual a de casal. Não se pode ter meio carro, pagar meia mensalidade no clube e nem no condomínio do prédio. Mas o preço maior não está no financeiro. É preciso ter maturidade emocional para dar conta, para segurar tudo não tendo com quem dividir a peteca e não a deixando cair. É preciso, acima de tudo, aprender a desfrutar a independência e a autonomia conquistadas, fazendo do viver uma aventura digna de ser vivida, rica, feliz.

    Permanecer solteira, não ter filhos, morar só não representam mais sintomas, traço neurótico ou dificuldade de assumir a condição feminina. Não é preciso casar ou se tornar mãe para sentir-se uma pessoa completa e realizada. E pelo andar da carruagem, cada vez mais mulheres preferem dizer: “não tenho marido, mas sou feliz” do que acompanhar a autora do livro “Não sou feliz, mas tenho marido”.

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