Esse é um mundo que, compulsivamente, inventa. Cria-se de tudo, inclusive genéricas maluquices. Quase não dá mais para se espantar, mas ainda há o que ultrapassa o amplo limite de nossa tolerância. Dizia a manchete do jornal da capital: “É natural: queremos alguém que nos guie”, reproduzindo palavras da consultora especialista em consumo, Melinda Davis. A americana do norte é autora do livro A Nova Cultura do Desejo, que defende que as pessoas querem ser poupadas de chateação no seu estado de espírito: querem ser liberadas do peso de tomarem decisões e fazerem escolhas. E acrescenta que para vender é preciso proporcionar mais do que prazer: êxtase. As palavras de Davis apenas verbalizam o que a realidade do cotidiano demonstra: vivemos uma sociedade extasiada pelo consumo. Os Yodas aparecem como guias para satisfazer os ávidos consumidores.
Vai fazer uma viagem? Procure um yoda que lhe guie não apenas o caminho e seus atalhos, mas defina o roteiro e os lugares que você deverá ir. Este é o modo de transformar os preciosos dias de férias em um roteiro de compromissos agendados: acordar cedo, não perder passeios “imperdíveis”, etc e tal. Não invente, nem improvise, apenas siga o roteiro.
Para boa sorte geral, as viagens programadas acontecem esporadicamente. Os piores guias são os que atormentam o dia a dia, determinando desde o traje até o que se deva ou não falar, comer, beber. O que combina e o que não combina. Tudo estabelecido sem levar em consideração os juízos de valor e as particularidades de gosto ou paladar. Para comprar um vinho, consulte um guia, leia a opinião de especialistas que vão lhe falar coisas que você provavelmente nem vai entender, mas que lhe apontarão o que deverá servir em seu copo. Se a questão é comprar um livro, consulte um especialista. Decorar cada, o decorador. Presentear alguém? Tem o especialista para indicar o que deve se comprado. Nem pense em ficar perdendo seu tempo precioso com essas miudezas.
Pensou num cineminha? Tropa de Elite 2 é sucesso de bilheteria, os yodas o recomendam para crianças, jovens, adultos e idosos. Tiro pra cá, palavrão pra lá, mas é bom, tem quer ver, pois essa é a realidade – do morro, da favela, do crime. Tem que ver, independente da sua idade ou sensibilidade ou do lugar onde viva. Depois você toma uma o remédio da pressão, uma dose a mais do antidepressivo ou um comprimido para conseguir dormir.
Os yodas estão sempre prontos a colocar a vida alheia no piloto automático: ninguém precisa mais pensar em nada, apenas prosseguir no rumo apontado e, como Pilatos, lavar as mãos pelas decisões não tomadas. É vida sob nova direção, sendo vivida por escolhas ditadas, dissociada de significados, inconsciente de conseqüências.
Publicada
dia 11/12/2010
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