quarta-feira, 23 de setembro de 2009

AMORES E MAUS-TRATOS

Publicada Jornal Agora
Caderno Mulher Interativa
25/10/2008

     Quem ama mata? Sim, tem gente que ama, mas destrata, maltrata e até mata... Nem todo mundo sabe amar, infelizmente. O que parece tão fácil e natural, para alguns é desafio que detona uma guerra interior. Pelas milhares de horas terapêuticas que já vivi passaram muitas histórias de amores tumultuados, tristes, de infelizes amores. Gente que se amava, mas se amava mal. Há amores meio doidos, vividos entre tapas e flores e há outros piores – os que são completamente malucos. Os maus-tratos do amor, no entanto, são café pequeno diante dos estragos que uma doentia paixão pode produzir.


     Paixão e loucura andam de mãos dadas. Aliás, a paixão é uma forma de loucura, de rompimento com as referências racionais que limitam nosso cotidiano. Entender a paixão é compreender uma emoção que transcende aos princípios e limites da razão, que rasga conceitos e que supera preconceitos.

     Apaixonar-se é algo intensamente prazeroso, mas profundamente assustador – por isso muita gente fugiu e continua fugindo da paixão, buscando guarida em amores mais serenos, seguros e garantidos, ainda que muito menos intensos.

     Amar e ser amado tranqüiliza o coração, faz bem ao corpo e à alma. Estar apaixonado é completamente diferente: é viver um reboliço interno, um estado de exaltação, uma impossível quietude. É do trato da paixão a intensidade que torna o amor em coisa outra. Paixão é energia invasiva, irrestrita que não pede licença e faz poucas concessões.

     Colocada no banco dos réus como culpada de grandes tragédias remotas e contemporâneas, a paixão merece defesa. Posso testemunhar que muitas são as paixões de boa índole, de bom trato e gestos generosos e que umas tantas vidas teriam sido mais felizes se houvessem se entregado plenamente ao amor apaixonado.

     As paixões que provocam tragédias são protagonizadas por uma combinação de outros fatores. Pessoas agressivas, impulsivas e narcisistas quando se apaixonam querem fazer do objeto de amor uma parte de si mesmas, controlando e sufocando a outra pessoa com ciúmes patológicos.

     Imaturidade e paixão é outra das combinações explosivas e freqüentes, num mundo que estimula a precocidade sexual de crianças e adolescentes. Pessoas imaturas agem como crianças birrentas: têm baixa tolerância à frustração, se desorganizam facilmente quando contrariadas, querem atenção permanente. Os muito jovens são, por sua natureza, ainda não-suficientemente maduros, embora se sintam adultos. Esses precisam ser protegidos dos percalços das brincadeiras do amor e dos riscos das intensas paixões.

     Talvez a meia culpa coletiva que precisamos todos assumir seja a responsabilidade de melhor educar e proteger aos muito moços dos perigos dessa aventura radical chamada paixão.



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