quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SIM, NÓS PODEMOS!

Publicada Jornal Agora
Mulher Interativa
08/11/2008
     A democracia andava meio chocha e desacreditada pelas bandas de cá; nas últimas eleições, muita gente preferiu viajar a votar. Eu compareci sem entusiasmo, por obrigação. Até andei cogitando com meus botões se o retorno da monarquia não seria socialmente mais econômico do que o rodízio de gestores e de suas abusadas cortes; ou talvez uma forma pós-moderna de anarquismo fosse solução alternativa. Eis que me surge a figura de Obama, fazendo brilhar o ideal democrático.

     Fui vendo apenas flashes da eleição americana, meio desinteressadamente, pois me tornei antiamericana em retribuição às atitudes antipáticas dos governos da latitude norte da América. Entretanto, foi impossível ficar indiferente à trajetória de Obama.

     A questão racial é só um detalhe – mas é a primeira diferença notada. Um homem pode esquecer sua origem ao ascender ao poder. Ao avançar na história pessoal, a pobreza vai ficando para trás, na maioria das vezes fazendo esquecer humildade e outros sentimentos ligados à condição subalterna – o que muitas vezes se pode lastimar como grande perda. Mas um homem negro não troca de pele, continuará a ser negro e isto estabelece uma diferença definitiva. Marca ainda mais num país em que todos os que não são brancos, são considerados negros, independente da mistura de etnias e do tom de sua pele. Mas essa é apenas uma questão racial.

     Barack Hussein Obama é um norte-americano protestante de origem muçulmana, que por ironia é um Hussein (como Sadam) e traz o nome Obama (confundido inicialmente com o Oshama). Esse cidadão incomum, filho de pai negro queniano e mãe branca americana, foi criado entre Havaí, Quênia, Indonésia e Estados Unidos, tendo sua personalidade forjada por povos, culturas e religiões diferentes.

     Alguém que experimentou transgressões leves na juventude, mas fez depois percurso acadêmico impecável. Dedicou-se a trabalhos comunitários, trabalhou na advocacia e fez carreira política meteórica, como se surgido do nada. Esse percurso surpreendente lembra o sucesso de seus co-irmãos quenianos, que conquistam maratonas pelo mundo com passadas largas. Obama tem a elegância e destreza dos maratonistas quenianos, aliada ao porte desenvolvido por melhor alimentação e à excelente formação cultural das boas escolas e da universidade no qual se graduou. Um americano atípico em todos os sentidos, inclusive no quesito simpatia. A diversidade que a todos enriquece, neste homem juntou elementos muito preciosos genética e culturalmente.

     Sim, podemos! Podemos esperar mudanças – pois como está não vai ficar e isto parece certo. Sim, podemos acalentar boas esperanças de que possa estar surgindo um novo modelo de democracia, marcada pela solidariedade e pela tolerância. Sim, podemos torcer para que o carismático Obama contribua com atitudes a favor da paz e do entendimento global.



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