quarta-feira, 15 de junho de 2011

Roubar Com Moderação

São tantos os escândalos políticos financeiros que a gente até se confunde com dados e nomes. Pululam Ali-babás por todos os lados.


Tenho pensado que nosso problema não é que roubem, mas sim as grandezas envolvidas. O país é grande, rico, mas não dá conta de tantos Ali-babás e de seus milhares de ladrões dilapidando fortunas. Se muita gente, cada um roubando um seu quinhão, seria só exercício de distribuição de riqueza, ainda que ilegal, imoral, desonesto, não afetaria muito nossas finanças. Se fosse um ou outro corrupto, que surrupiassem vultosas somas, por serem casos isolados, não daria conta de carregar o tanto que temos e nem denegririam a moral nacional. Mas é muita, muita gente roubando muito, aí não há quem agüente. Roubar para o sustento, para o básico, para matar a fone, até a lei perdoa; roubar dentro dos limites físicos do transporte (dentro de bolsos e bolsas) pode passar despercebido; roubar para utilizar o dinheiro em gastos supérfluos – ainda serve para redistribuir o dinheiro surrupiado... Agora, roubar para mandar os frutos para aquelas ilhas que nunca fizeram parte das aulas de Geografia; roubar o que, de tanto, nem numa vida inteira se conseguirá gastar; aí ultrapassa todos os limites. São milhares de pessoas, roubando bilhões de milhões de pessoas. Roubalheira acima de qualquer cálculo estimativo.

Os pequenos furtos são comuns na vida cotidiana. Todo empreendimento comercial conhece a prática, mas, que eu saiba, nunca houve um único caso de falência de empresa provocada unicamente pela incidência desse delito. É um problema físico: os que assim agem – mesmo que sejam muitos – só podem levar o que conseguem carregar no próprio corpo.

Retornando para nossas finanças públicas, recorro à ironia como forma de protesto, meu jeito de registrar minha indignação. Já que no tramar da política, em todas suas entrânsias, está enxertado o desvio de recursos, poderíamos propor, coletivamente, um acordo para que prática de surrupiar passasse a ser exercida com alguma moderação. Poderíamos ser generosos com o teto máximo do roubo consentido, por tratar-se de um acordo, colocando-o na casa de um milho grande – um milhão, daqueles que a gente que vive do trabalho nunca viu e, possivelmente, jamais verá na vida. Estaríamos no lucro, pois sempre os roubos envolvem dezenas ou centenas de milhões. Com o tempo, a cota seria reduzida até chegar ao nível de tolerância zero.

Poderíamos propor uma alternativa mais radical para, ao menos manter o dinheiro no país. Uma campanha terrorista informaria com alarde que as contas secretas nos paraísos fiscais haviam sido tomadas por piratas virtuais. Aliás, vale pensar porque será que essas tais contas são tão imunes, tão seguras e garantidas?

O fato é que temos que achar um jeito, urgente, de sarar a sangria, de conter os desfalques, de mudar as práticas políticas neste país. O problema é histórico, não tem soluções fáceis, o que deve nos estimular a lutar para mudar o rumo, para fazer deste um país sério e respeitado. Temos que deixar de pensar que, por serem antigos e históricos, os maus hábitos devam ser aceitos como naturais e eternos.

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