Ensinamos nossos filhos a ganhar, a buscar a vitória a todo custo e a despeito de qualquer pena. Moldados pelo paradigma da moderna sociedade industrial, cultivamos a idéia de que só há valor no ganho, no proveito e no lucro. Esquecemos do outro lado da moeda da vida. Tudo o que se ganha também se pode perder e é preciso aprender a lidar com isso.
Como a descida de uma montanha exige muito maior cuidado e prudência do que a escalada de subida, saber perder é mais complicado do que aprender a ganhar. Aprender a perder é um valioso aprendizado, coisa que se ensinava às crianças nos remotos tempos em que o mundo infantil era preservado distante das conversas e interesses adultos. Mas, em função das agudas transformações da sociedade na qual vivíamos, permitimos que nossas crianças fossem transformadas em precoces consumidores; deixamos de oferecer limites entre o necessário e o dispensável; entre o certo e o errado; entre o bom e o mal. Criamos o mundo das ilusões e dos holofotes; da fama rápida, do sucesso fácil. Era tudo isso adequado ao ciclo de transformação pelo qual passava a sociedade invadida por máquinas e regrada por paradigmas de urgência, competitividade e consumo. Assim exigia e inspirava o mundo das máquinas a todo vapor, acenando uma vida confortável, perfeita, repleta de tudo e ao alcance de todos. Acreditamos no admirável mundo novo e criamos a geração de nossos filhos para desfrutá-lo.
O fantástico mundo mecânico que instaurou a era moderna agora está superado pelo novo mundo da informação, que gira em saltos e prescinde da necessidade de engatar uma peça na outra. Esse universo saltitante impõe muito maior necessidade de equilíbrio emocional do que o mundo aparentemente sólido oferecido pela era anterior. As ilusões de então estão perdidas: foram-se os empregos estáveis, a segurança das ruas e tantas outras coisas. O mundo é outro, repleto de incertezas presentes e futuras. A espiral dos retornos, que sempre regrou a história, traz de volta a necessidade de resgatar aprendizados de tempos remotos.
As patologias que estão surgindo são decorrentes das novas contradições sociais e exigem que se ajuste o modo como educamos as gerações futuras. Dentre as mais valiosas habilidades a serem desenvolvidas está a capacidade de resistir a situações adversas chamada de resiliência. Só algumas poucas pessoas são dotadas de inata resiliência, a maioria precisa ser educada para desenvolver essa capacidade, aprendendo a enfrentar perdas e superar frustrações. É muito melhor ensinar as crianças, em situações de ensaio e erro cotidianas, do que as deixar crescer como adultos despreparados, com grande dificuldade de enfrentar as agruras do mundo e as decepções da vida.
Publicada em 16/04/2011
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