Foi-se o tempo em que se enviavam cartas, escritas com palavras completas, expressando sentimentos, descrevendo emoções em detalhes. Explorando as riquezas abundantes da língua, usavam-se frases recheadas de adjetivos, advérbios, conjunções. Escrevia-se para destinatário certo, singular, pessoal e intransferível. E, o melhor de tudo, era de bom tom que mensagens pessoais fossem de próprio punho, pois se escritas à máquina denotavam certa frieza e impessoalidade. A letra caprichada não permitia engolir letras, nem pontos, muito menos vírgulas. Era nesse formato pessoal e particular que se escrevia na maioria das vezes. Existiam as mensagens coletivas, mas essas se restringiam ao contexto de negócios, enviadas como mala direta para clientes ou funcionários. No caso de o conteúdo ou a importância do assunto interessar ao público em geral, então se recorria a notas impressas em jornais ou em outros meios de comunicação. Era assim que o mundo girava antes do surgimento da comunicação virtual.
A revolução das relações pessoais começou devagar, com as formas de comunicação instantânea. No princípio pareceu ser coisa muito boa poder falar com amigos pelo Messenger, palavra estrangeira que logo entrou no vocabulário popular abreviada na forma de MSN. Era o primeiro sinal de sumiço das letras e do extermínio das cartas, telegramas, bilhetes. O MSN permitia falar com várias pessoas ao mesmo tempo. Maravilha! Pensaram os adeptos de novidades. Que horror! Suspiraram os personalistas, apreciadores do sabor das conversas reservadas. Não houve tempo para protestar e nem argumentos para resistir. Logo o mundo passou a girar na alta voltagem das redes sociais. Como num salto, surgiu a onda de Ipods, Ipads, facebooks e outras coisinhas mais. A comunicação passou a ser feita na forma genérica, plural, indeterminada. Escreve-se de tudo, qualquer assunto, para quem interessar possa, estilo mala direta. É como se qualquer coisa pudesse ser importante e demandasse divulgação instantânea, urgente. Singelas bobagens merecem ser lançadas na rede mundial, para o mundo inteiro. Não há mais necessidade de invadir a privacidade alheia, ela é oferecida de bandeja, entregue em recadinhos íntimos (ou scraps), vídeos e fotos pelo mundo afora. Questionamentos banais do cotidiano abarrotam o mundo da informação virtual e alimentam a ilusão de ter um milhão de amigos ou “seguidores” acompanhando seus passos e descompassos diários.
As tais redes sociais... Frases soltas largadas no espaço virtual. A comunicação feita pela troca de monólogos ou pelo bate rebate de fragmentos de conversas. Misturam-se alhos e bugalhos tornando a rede um verdadeiro saco de gatos, um emaranhado de informações triviais, de idéias mal traçadas, pensamentos incompletos lançados às pressas na conexão instantânea da internet. Estamos no império do irrestrito. Tudo e todos se tornaram de domínio público. Escancararam-se as janelas da vida para o universo de quem queira entrar, ver, bisbilhotar. Perdeu-se o pudor pessoal, aquilo que fazia preservar a esfera privada, familiar, do mundo fora da porta de casa. Estamos nos acostumando a falar com as paredes – ou com a tela do computador – como se fosse gente de carne, osso e alma. Estamos nos acostumando com coisas absurdas.
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