Confesso. Tenho certa admiração pelas pessoas que conseguem ser e viver de forma oposta a minha, por aqueles que conseguem se manter firmes e fortes encima de qualquer muro. Falo dos tipos humanos que, mesmo diante das maiores polêmicas, dizem o que agrada a ambos os lados, se colocam acima das controvérsias. São pessoas capazes de se apropriar dos pontos de vista alheios e circular pelo contraditório, sem causarem desagrados e por isto não sofrerem censura ou crítica. São assim os tipos diplomáticos. Conseguem ser simpáticos a gregos e troianos. Reconheço como uma habilidade valiosa, capaz de manter todas as portas abertas, galgar postos de trabalho importantes e outras tantas vantagens. Se bem observados, se fizermos uma análise de seu discurso dará para se perceber que em verdade nunca expõem um ponto de vista seu, jamais abrem a guarda de seu pensamento. Com esta estratégia se dão bem, geralmente muito bem na vida.
Admiro – sem inveja – essa habilidade que eu reconheço possuir em mínima dose. Tenho meus pontos de vista muito claros, definidos e sofro imensa dificuldade de dizer algo com o qual eu não concorde. Daí, por esse modo de funcionar, consigo com freqüência desagradar gregos e troianos, posto que concordo apenas parcialmente com cada um deles, estabelecendo, valorizando e – pior - expressando as diferenças que vejo. Assim me aconteceu na época em que havia lateralidade política: os da esquerda me achavam muito ao centro, mas os da direita me consideravam uma radical de esquerda e, não servindo nem a um e nem ao outro, não era considerada de confiança por ambas as tendências. Como não tinha habilidade para me acomodar no centro muro – ocupado pelos que sabiam se equilibrar em meias verdades-meias mentiras - fiquei sempre no grupo do eu sozinho, acusado com freqüência de se achar dono da verdade. Eu, particularmente, nunca me achei a dona da verdade, apenas me sinto e faço questão de me sentir dona e senhora das minhas próprias verdades, de minhas convicções, que não vendo a preço algum e não troco por nada. Respeito quem pensa diferente de mim, respeito plena e completamente. Também sou capaz de mudar minhas convicções, o que ao longo da vida já aconteceu várias vezes, mas sempre em conseqüência de meu convencimento, sem envolver nenhum outro tipo de troca.
Ter ponto de vista é algo que custa caro nesses tempos em que o importante é seguir tendências, ser seguidor disto ou daquilo, pertencer a um grupo ou migrar de lá para cá e de cá para lá, mudando de pele e de alma. Nesses tempos em que jogadores e políticos trocam de time de acordo com a vantagem do momento e só a torcida continua firme e forte no mesmo lugar da arquibancada, acenando bandeiras, batendo palmas e penhorando sua devoção. Custa caro pertencer à turma do eu sozinho, mas talvez seja uma das formas mais plenas de existir e o único modo de exercer plena liberdade de pensamento.
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