Diante dos fatos, de tudo o que
tem sido dito, visto, escrito, gravado e filmado, como alguém ainda pode
acreditar no melhor? A situação conspira para o desenho dos mais sombrios
presságios. É notícia ruim de todo lado e de variados tipos. A Natureza, reagindo
aos maus tratos sofridos, tem dado mostras de sua força e sinais de um porvir
ainda mais grave. Quedas de granizo, enchentes e enxurradas deixam de serem
fenômenos esporádicos e vão se tornando freqüentes manifestações do clima.
Multidões são lançadas ao desabrigo clamando ações de proteção. As ajudas antes
destinadas à gente distante, agora são necessárias para vizinhos de porta. E isso só vai piorar. O cenário
político-social completa o quadro com crise de tudo: da falta de dinheiro à
falta de juízo e de vergonha. A confusão inspira um caos coletivo e um país à
deriva.
Olhando mais adiante, aparecem
maiores e mais graves problemas. O drama de refugiados oriundos de vários
países; multidões fugindo em desespero a implorar por ajuda humanitária. Fechar
os olhos e tapar os ouvidos já não mais é possível. Acreditar em que? Em
quem?Como? Se essas parecerem perguntas
sem resposta, então estamos no ponto em que só resta o amparo da esperança, a
força da fé capaz de remover a montanha de coisas ruins e afastar os maus
agouros.
Esperança é coisa que raramente
se tem quando ainda se é jovem e está de bem com a vida. Nessa época a autoconfiança
e auto-estima bastam para tocar o barco. Jovens confiam na melhor versão do
porvir, cheios de alegria e entusiasmo, plenos de certezas. Quando, porém a
existência vai se prolongando, as expectativas dificilmente se cumprem à altura
do esperado. É preciso enfrentar decepções, frustrações, dificuldades e
problemas. As alternativas vão ficando cada vez mais restritas. Ai, a tal
autoconfiança vai se esvaindo, minguando diante das situações vividas.
Excluindo os poucos vitoriosos, para quem a vida só sorri e parece tudo dar
certo, a grande leva dos demais escreverá uma biografia mediana ou pior que
isto. E por este ser o script mais comum
no existir, alimentar esperanças é uma preciosa dádiva que se pode ganhar e
aprimorar ao amadurecer. A sabedoria da vida coloca cada coisa a seu tempo, nem
antes e nem após o necessário: aos jovens ímpetos e coragem; aos mais idosos, prudência,
paciência e esperança. Isso na escala individual, a nível coletivo situações
dramáticas e drásticas como as citadas ao início são impostas a crianças,
jovens e velhos, atirados a mesma condição de impotência e desamparo.
Nos momentos mais difíceis,
quando se perde de vista o horizonte e não se encontra sequer sinal de algum porto
seguro, só a esperança pode salvar. Esse sentimento poderoso e insistente é
capaz de manter o ânimo, restituir a energia, apesar de tudo e apesar de todas
as mais adversas circunstâncias. A teimosa esperança que insiste sempre na possibilidade
de uma saída, de um salvador desfecho, ainda que este possa parecer impossível.
A teimosa esperança que repete sempre: tudo passa e esse momento ruim também
vai passar. A chuva passa, o Sol volta a brilhar e o mundo vai melhorar, um dia
vai melhorar. Diante das agudas aflições do momento, para manter a saúde e
sobreviver é preciso teimar em manter acesa a chama da esperança.
(publicado no Jornal Agora - em 03/10/2015)
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