Desde o início da vida, o destino
vai sendo caprichosamente desenhado pela sorte, pela combinação aleatória de
células que nascem e que morrem. Nosso corpo todo é feito e mantido por esse
sorteio, assim diz pesquisa científica divulgada ao início deste novo ano.
Até aí se podia pensar que
estaríamos salvos das piores doenças cuidando bem do corpo, com atividade
física regular e alimentação saudável. Dê-lhe academia, caminhada, ioga; suco
de couve, cebola, alho, tomate, chá verde e outras coisinhas mais. Dê-lhe arroz
integral, pão integral, comida orgânica, biodinâmica e uma tacinha de vinho
tinto para completar. Licopeno, salvestrol, resveratrol e outros bichos estranhos
entraram no vocabulário cotidiano. Dê-lhe exames de sangue buscando notas
baixas em glicemia e colesterol. Tudo certo, tudo feito, vai sendo acalentada a
esperança de quase imunidade ao que de pior se teme em questão de doença.
Acumulando méritos não teríamos o sofrimento como castigo, ilusão de quem
acredita na proteção do merecimento.
De repente, meio de revés, vem a
ciência puxar mais uma vez o tapete das esperanças mágicas. Por melhor que se
cuide da saúde, nada tem o poder de impedir o surgimento e a multiplicação de
defeitos celulares. Como assim? Então não adiantou a revolução alimentar dos
últimos anos?
Calma, muita calma. É preciso ler
adiante da manchete e, além de ler o texto completo, refletir sobre o
assunto. O que está dito agora é que os
erros na renovação celular acontecem sempre, mas algumas pessoas tem mais sorte
do que outras nesse processo. Por isso, apesar de todos os cuidados, uns
desenvolverão cânceres e outros, em que pese muitos abusos, cachaça, bacon e
batatas fritas, passarão pela vida ilesos. Disso já se sabia, bastava observar
a vida ao redor. Porém, independente da boa ou má sorte de nossa carga
genética, a vida saudável continua a ser um fator de ajuda, minimizando riscos
e conseqüências.
A tal da sorte na verdade nos
acompanha em todas as áreas da vida: amor, trabalho, negócios, tudo é regido em
grande parte por esse fator aleatório. Ainda que muita gente credite seu
sucesso apenas ao próprio talento, sempre há algum toque do acaso, do fortuito,
da boa sorte.
Tudo parece ser regido por uma
combinação de acasos, pelo menos se pensarmos no curto prazo dessa existência.
A contabilidade de longo prazo, a vida em ampla dimensão, considera créditos e
débitos que estão além do alcance de nossos olhos. Se fizermos tudo do melhor
modo, estaremos ganhando créditos que, de algum modo ou em algum momento, serão
contatos a nosso favor. A sorte não depende da escolha de nossas mãos, mas o
merecimento – este sempre esteve e estará ao alcance de nosso lúcido e livre
arbítrio.
(publicada no Jornal Agora em 10/01/2015)
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