O título deste artigo é o nome de
um filme com argumento inspirador. Em “O Preço do Amanhã” ninguém envelhece,
pois aos 25 anos cessa o processo de envelhecimento, mas um relógio biológico
cruel passa a funcionar. Uma contagem regressiva passa a correr para a morte
anunciada. As pessoas passam a ter o tempo de vida restante cronometrado na
pele, podendo armazenar ou transferir seu tempo para pagar as transações
comerciais de sua vida.
Os ricos podem ser imortais, com
o acumulo de muitos anos de vida em seu cronômetro, já o resto da humanidade se
digladia de todas as formas para obter apenas mais alguns dias, ou horas ou até
mesmo uns poucos minutos a mais de sobrevivência.
Abstraindo-se da trama os
aspectos ficcionais, pensando bem pensado, vivemos a pagar o preço do amanhã de
vários modos. Temos todos um cronômetro invisível a correr permanentemente, só
que nos permitimos viver como se a eternidade nos fosse disponível. Quando
surge a doença ou o desamparo da velhice é que se torna muito nítido o custo
que tem a vida e que só alguns podem pagar.
Se a moeda de nossas trocas, de
repente, se tornasse o tempo, a cada compra feita corresponderia um pedaço de
nossa existência, um quinhão de vida que teríamos que devotar ao seu pagamento.
Dependendo a renda, alguns bens poderiam custar valiosos anos de vida.
Imaginando um mundo assim,
individualmente o cálculo poderia fazer mudar muitas escolhas, alteraria a
ordem dos desejos e talvez fizesse sumir umas tantas fictícias necessidades –
dado o pedaço de vida a entregar na troca. De sã consciência quem entregaria
dois, três, quatro anos de sua existência apenas para desfrutar o prazer
instantâneo do carro novo ou da viagem dos sonhos? Mas é mais ou menos isto que se entrega
quando se precisa trabalhar longos meses, viver grandes sufocos pessoais, para
usufruir esses e outros prazeres materiais.
A moda ostentação, em vários
estilos, é um bom exemplo do quanto uns podem gastar num único objeto o valor
que outros jamais conseguirão juntar em toda sua vida de suado trabalho.
O sagrado e fugaz tempo de vida
vai sendo trocado por dinheiro e pelas coisas que se possa com ele comprar. Num
ritmo cada vez mais alucinado, a vida vai sendo engolida em suas horas e dias,
o tempo devorado às pressas.
O futuro é sempre incerto,
advogam os imprevidentes, por isto devemos sorver o presente a grandes goles,
como se não houvesse amanhã. Por certo, não há certezas no porvir, o futuro a
ninguém se pode garantir, mas é semeado pelas esperanças que alimentamos, pelos
sonhos que sonhamos. É bom que a vida seja plenamente vivida no gerúndio, mas
que o momento presente seja fecundo o suficiente para escrever uma boa história
de vida e – de algum modo preparar para o futuro, custear o preço do amanhã.
(Publicado em 28 de junho de 2014)
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