O Livro das
Caras (Facebook) parece estar produzindo exacerbação da autoestima, perda da autocritica
e outras tantas coisas.Com a facilidade de postar coisas, todo mundo –
literalmente – expõe sua vida e extravasa a própria intimidade. Uns com algum
pudor ou cuidado, mas a maioria de forma absolutamente irrestrita. A mudança
social produzida em larga escala e em tempo recorde fez surgir diversos
fenômenos, mudou a escala de valores morais e criou novos personagens.
Nos tempos
anteriores à época virtual – um tempo não tão distante – gente que se exibia, exibidos,
contadores de vantagem, faroleiros, eram chamados de gabolas. Chamar alguém de
gabola era ofensa, ainda não tinham inventado o bullying. E vale lembrar que os
gabolas de então se exibiam de formas muito discretas considerando os atuais
padrões.
Fotografar a si
mesmo, fazer um autorretrato, por exemplo, exigia, além do caro filme na
câmera, certa habilidade e equipamento adequado. Era precisocolocar um tripé num
lugar seguro. Ajustar o ângulo, montar a cena, reservar seu lugar e depois
acionar o cronômetro de disparo, correndo para a frente da máquina e entrar na
cena, com cara de espanto. A maioria dessas fotografias
era de grupos, nas quais o fotografo queria apenas fazer parte. O resultado – a foto – era mostrada para um
pequeno grupo de pessoas interessadas. Agora com a proliferação de câmeras
digitais e celulares que tiram fotos, fotografar se tornou algo banal,
dispensando custos, cuidados, conhecimento e bom gosto. Surgiu o fenômeno Selfie, autorretrato tirado
normalmente apenas do rosto, com a dimensão dada pelo braço. Considerada
palavra do ano em 2013, quando até poderosos presidentes se prestaram para
fazer selfies, desprezando as excelentes fotos tiradas por dezenas ou centenas
de fotógrafos profissionais. Para
piorar, alguns tiram seus selfies nos ambientes e momentos menos apropriados,
demonstrando o quanto está sendo o perdido o senso de medida e a sensibilidade
estética.
Os selfies são
apenas uma das demonstrações do quanto esta é a vez dos Gabolas, de gente que
se exibe a qualquer preço. Independentemente de seu valor ou importância,
parece que muita gente está se achando “grande coisa”.
Se os selfies
são o retrato deste tempo de gabolice, a moda ostentação – em todas suas formas
– se ajusta sob medida a tudo isto. O que há pouco tempo era considerado
exagero, breguice, agora está no hit da moda. Os mais pobres (de espírito ou de
dinheiro), se exibem com pesadas correntes de ouro (verdadeiras ou falsas),
muitos anéis, tatuagens, piercings e outros penduricalhos. Os mais
endinheirados – ou endinheiradas, não se incomodam de gastar fortunas em exóticas
grifes da moda, usando estilos chamativos, que os diferenciem claramente e
mostrem o quanto “estão podendo”. Todo
mundo parece quererse exibir, expor sua figura.
Como o contágio
social nunca foi tão poderoso, quanto mais exibida e exótica for uma criatura,
mais seguidores alcançará – proliferando verdadeiros exércitos de Maria Vai com
as Outras. Estas, porém, são um capítulo à parte, que merece muitos parágrafos
e extrapola este artigo, que apenas quer reconhecer a vitória – talvez a
vingança – dos gabolas.
(publicado Jornal Agora em 11/07/2014)
(publicado Jornal Agora em 11/07/2014)
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