Por mais otimista que se seja,
por mais que tudo indique êxito no que se pretenda, é bom ter um plano B. É
prudente que se pense em algum caminho alternativo, para o caso de imprevistos.
Convenhamos, porém, que prudência cheira coisa velha, arcaica. Algo completamente
fora de uso, por desnecessário, nestes tempos instantâneos.
As transformações tecnológicas
impulsionaram drásticas mudanças sociais que aconteceram de tal modo rápidas
que nem cederam espaço a reflexões. Fomos todos engolidos pela modernidade. O
mundo movido por mil facilidades e mínimo esforço veio envolto numa aura de
encanto e confiança. Porém, por uma dessas tantas ironias da vida, quando todas
as apostas estavam num mundo promissor de ilimitados confortos, veio o revés, a
crise. A vida, com suas infinitas facilidades, ficou cada vez mais cara. Para
viver agora se precisa mais do que abrigo, pão e água. É preciso internet
rápida e TV a cabo com mil canais; se precisa disso e mais de tantas outras
coisas tornadas indispensáveis. E tudo,
absolutamente tudo, custa dinheiro, cada vez mais dinheiro. E dinheiro é o que
está faltando aos governos e, por conseqüência, ao contribuinte – que os
sustentam.
E se falta dinheiro, que paga
todas as coisas, principalmente as mais caras, é preciso buscar alternativas.
Ah, cheguei ao plano B, titulo deste artigo, e que na verdade precisa ser uma
sucessão alfabética de planos: B, C, D e assim por diante. Afinal de contas, os
problemas e suas conseqüências virão num turbilhão de etapas. O governo parcela
salários e não paga fornecedores, o “povo” (nós aqui), passa a sofrer
restrições de serviços e de pagamentos e precisa inventar alternativas.
A reação começa pelo plano B,
vão-se os anéis e ficam os dedos: cortam-se gastos desnecessários, mas que eram
habituais. Como já se havia diminuído
consumo de luz e água, sem com isto economizar tostão algum devido ao aumento
de tarifas, é preciso avançar na poda econômica. Corta-se lazer, tv a cabo, restaurantes, cinemas – e estes empreendimentos entram em colapso,
aumentando a crise de emprego, de renda e de impostos. Mas como isso não
representa muita coisa no orçamento doméstico, logo é preciso inventar o plano
C: agora o corte atinge gastos com vestuário, utensílios domésticos, etc. Mas o
cerco aperta, o salário atrasa e as contas se acumulam. É preciso seguir
cortando, avançar e inventar o plano D: reduzir despesas de comida, de
combustível. Ah, chegamos ao carro, comprado e sustentado a caro custo e que
agora precisa ficar na garagem: gasolina caríssima, IPVA em atraso... Estamos
quase voltando a pão e água, mas não chegamos ainda no Pet da casa, que com
suas tantas necessidades nutricionais consome em ração e tratos mais do que os
demais membros da família. Este, por questões afetivas, por mais oneroso que
seja ao orçamento, será o último elemento a sofrer cortes de consumo. Seria
perverso demais que ele sofresse privações por questões econômico-financeiras
que o bichinho não tem a menor noção de existirem. Os Pets só serão atingidos
quando o alfabeto de nossos planos estiver se esgotando.
O caminho de pedras e privações
que se anuncia está só começando. Por ora é falta de dinheiro e atinge apenas o
que com ele se compra. Infelizmente, tudo indica um porvir ainda mais difícil. Portando,
é bom ir treinando a técnica do “plano B, C, D...” .
(publicada no Jornal Agora - em 22/08/2015)
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