As curtidas e não curtidas do Facebook
estabelecem o pedaço de mundo de nossa preferência, o que gostamos de ver e o
que não nos interessa saber. Bem-me-quer, mal-me-quer; entre curtidas e não
curtidas vai sendo segregado o joio do trigo. É usando esta informação que o
algoritmo do site filtra os conteúdos a serem apresentados nas páginas que,
distraídos, visualizamos. O Facebook inclusive oculta atualizações de amigos
com quem interagimos pouco – e dessa forma aprofunda a distância com esses
amigos.
A ordem das pesquisas na internet
é estabelecida também com base em concordâncias ou discrepâncias, priorizando
páginas coerentes com pontos de vista que já temos, banindo o que se
contraponha, conspirando para estreitar e enrijecer nosso horizonte mental. Criamos
uma bolha ideológica em torno de nosso umbigo. E, pior, muitos de nós acreditam
que o Mundo todo, quiçá o Universo, está representado nas páginas da internet
que visualizam.
A galáxia da internet está
enviesando nosso olhar, restringindo as veredas que trilhamos. É fácil observar
essa intervenção quando, por exemplo, se faz uma pesquisa para compra de determinado
item. A gente pesquisa, escolhe o item, compra e depois por longo tempo
continua a ser bombardeado por publicidade sobre dito objeto. O mesmo acontece
no caso de outras escolhas, como no site do Netflix. Se um dia você viu dois ou
três filmes de ação, o algoritmo entende que é disso que você gosta, só disso.
Assim, a página só vai indicar esse gênero ou gêneros semelhantes. Os milhões
de páginas que se apresentam no buscador do Google estão ordenados por esse mesmo
critério arbitrário e é preciso saber pesquisar para encontrar os conteúdos
considerados “irrelevantes” pelo árbitro lógico-matemático do site.
No entanto, não seja paranóico de pensar que há
seres de carne e osso tramando nossas escolhas. Não há pessoas ocupadas conosco,
pelo menos não diretamente: são algoritmos que programam e retroalimentam as
respostas do computador. Estamos nos tornando reféns dessas equações complexas que
ditam a ordem e os conteúdos que serão apresentados e os que serão suprimidos
de nossa rede de informação. Só “cai” na nossa rede o que eles, os algoritmos,
determinaram ser relevantes para nós, a partir do que nós, inadvertidamente,
escolhemos. Vale dizer, portanto, que somos co-responsáveis pelo pedacinho de
mundo no qual nos encarceramos. Não por acaso, mas por conseqüência do modo
como é balizado o oceano virtual na qual cotidianamente navegamos, parece estar
crescendo a intolerância a pensamentos e comportamentos divergentes. As pessoas estão se aglutinando em guetos
ideológicos, buscando apenas o que reflete e reverbera as próprias idéias, banindo
quem pense diferente, mesmo que sejam pessoas próximas no mundo real.
Pensa diferente do que alguém postou? Publique
sua divergência, exponha contrapontos e se prepare para as pedradas. Virá
chumbo grosso e tiro amigo por todos os lados. Saiba que poderá perder amigos
de longa data, romper com vizinhos de porta e ser banido até por familiares
amados. A internet deveria vir com tarjas de advertência: Use com moderação. Os
conteúdos publicados não refletem o pensamento de toda humanidade e podem ser
explosivos se entrarem em contato com pessoas que pensem diferente.(publicada Jornal Agora - em 30/05/2015)
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