Após mais uma sequência de dias
chuvosos, finalmente voltou a brilhar o sol em nossas vidas. Pelo menos esta é
a previsão. Escrevo na quarta-feira o artigo a ser publicado no final de
semana, ancorando minhas palavras na previsão do tempo. Portanto, creio eu que a
chuva tenha passado e estejamos vivendo a alegria de ver o sol brilhar no céu.
A mesma chuva que rega plantas e irriga
colheitas, inunda ruas, trás transtornos e por vezes grandes problemas. Na
medida em que se prolonga o período de chuva, vai proporcionalmente aumentando
as dificuldades a serem enfrentadas. Difícil, senão impossível, manter intacta
a rotina e vencer os planos traçados. É preciso estar muito, mas muito animado,
para permanecer indiferente a um prolongado período de chuvas. As roupas vão
ficando encharcadas, se acumulando sem que se possa lavar, as paredes de casa
vertem lágrimas de umidade. Rostos franzidos circulam agoniados pelas calçadas.
Os carros fluem ainda mais apressados, num ritmo estressante. Tudo muda quando
está chovendo, a cidade parece ficar triste.
Porém, não é só a chuva que entristece.
Alterações de temperatura e principalmente da luminosidade do dia influenciam o
ânimo das pessoas. Não há como ser indiferente, basta que se observem quantos
se queixam do frio, da chuva, do vento. Não
é coisa subjetiva, meramente psicológica, mas algo orgânico, físico. A questão
é que o corpo humano é regulado por hormônios, dentre eles a Melatonina, que
regula o sono e é produzida no escuro, e a Serotonina, neurotransmissor que
regula o humor, a energia e o apetite e que aumenta quando estamos expostos à
luz brilhante. Os tempos sombrios do inverno produzem aumento de melatonina e
redução da serotonina, provocando alterando os padrões de apetite, de sono e de
humor. Por isso, e não por falta de capricho ou disciplina, salvas as exceções,
todos sentimos necessidade de mudar a dieta, o ritmo de exercícios, o tempo de
sono.
Algumas pessoas, porém, são ainda
mais vulneráveis e chegam a sofrer da chamada depressão sazonal ou depressão de
inverno, contrariando os cientistas que consideram que no Brasil não ocorreria
tal transtorno, por ser um país tropical. Tropical? Nós, aqui ao pé do país,
estamos muito longe da linha do Equador.
Por estas bandas açoitadas pelo Minuano, com frio de renguiar cusco,
sofremos as agruras das mudanças do clima, dos longos períodos de céu cinzento.
Temos muito bem definidas as quatro estações do ano, diferente das demais
regiões do país. Mudam o cenário e o modo de nosso viver e algumas pessoas
chegam a adoecer e se deprimir com isso.
Mas não estou aqui para dar força ao desânimo.
Ao contrário, escrevo hoje para lembrar os vizinhos uruguaios, que saúdam com
alegria o céu azul e os dias de Sol. Quando lá estou ouço com freqüência: “que
lindo dia!”, saudação que a mim alegra e anima. Nossos hermanos, que estão
ainda mais ao Sul, valorizam os dias iluminados, talvez por lhes serem ainda
mais raros dado o rigor de seu inverno. Entre as tantas coisas que me encantam
no Uruguai, essa valorização da beleza do dia é algo precioso e sábio. Vale
copiar a receita. No inverno, lagartear o quanto se possa, aproveitando cada
nesga de sol, incentivando a produção de Serotonina e regulando a melatonina,
sempre agradecendo com um elogio: “que lindo dia!”
(publicada Jornal Agora - em 13/06/2015)
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