Na última semana dois casamentos
chamaram atenção. Num deles, os noivos convidaram como uma de suas madrinhas
nada mais e nada menos do que a Presidente da República, convidando também outros
dos mais importantes membros da corte republicana. O noivo, segundo publicado, é o cardiologista
dos políticos mais poderosos do país e deve ser realmente muito prestigiado,
pois todos compareceram pessoalmente. Foi o casamento ostentação de poder, com
direito a panelaços de protesto na entrada, dado o atual descontentamento com a
classe política.
O outro casamento foi da cantora
Preta Gil, celebrado ao estilo luxo ostentação, desde os cinqüenta padrinhos ao
excessivo custo da festa, comentado e muito criticado nas redes sociais. As duas festas, bem diferentes uma da outra,
são exemplos da atual tendência de transformar o que seria um acontecimento
familiar, num evento público de demonstração de poder, de sucesso. Os noivos
desses casamentos estão “podendo”.
O luxo exagerado, que antes se
chamava de brega, agora virou chique. Essa moda ostentação curiosamente saiu
das periferias, com correntes grossas no pescoço, tatuagens, pircings, bonés
com grandes letras douradas. O gosto pelo excesso e pelas demonstrações de
poder desceu os morros, embalado pela moda funk e caiu no gosto das classes
mais abastadas, que parecem estar perdendo o senso de medida e o
constrangimento.
Não é suficiente ter, o mais
importante é se mostrar o que tem, não importa de onde se tenha tirado ou como haja
sido comprado. Aliás, pensando melhor, nem importa o ter, desde que se consiga
fazer de conta, aparentar que se possua. É a vida e a felicidade traduzidas pela
exibição do sucesso aparente e de tudo o que seja caro. Quanto mais caro
melhor, seguindo a lógica de que vale pelo que custa e de que as pessoas valem
pelo que aparentem possuir.
Quem
está pagando tudo isto? De onde sai tanto dinheiro para sustentar esta moda? Há
um nexo evidente entre alguns tipos de crime, inclusive a corrupção, e o mundo
ostentação, tantas vezes sustentado com dinheiro de origem suspeita ou fonte
não declarada. Essa ligação fica ainda
mais forte quando se percebe que mesmo em momentos de crise econômica o mercado
da moda ostentação só cresce. Como ainda está em curva ascendente, não dá para
visualizar até onde poderá ir essa onda de gastança e opulência. Mas, como tudo passa, isto também há de passar.
Por ora,
resta aos que não concordam suportar o momentâneo sucesso desse indigesto festival
de excessos e de mau gosto. Como consolo, vale saber que há ondas contrárias,
movimentos de pessoas que estão despertando para a vida simples, optando pelo
despojamento. Paralelo ao delirante consumo ostentação cresce o número de
pessoas que discordam desse modelo e que está buscando resgatar a importância do
que é essencial. Um exemplo disto foi um
convite de casamento que recebi. Constava ali, como indicação de traje: “quem
somos nós para dizer a roupa que você deve vestir?”. Bem humorado e muito
inspirado, o convite era um chamado para um momento de celebração ao amor e ao
início de uma nova vida em comum. Apenas isso, simples assim. Não é o que
basta?
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