Há uma compulsão de estar em
todos os lugares ao mesmo tempo, de fazer tudo junto e misturado. Foi-se a
época do “ou lá ou cá”, das decisões, das escolhas. Agora dá para ir e ficar,
ao mesmo tempo. Jantar com amigos e no mesmo instante continuar participando do
que rola no Face, no Twitter, nos tantos ambientes virtuais.
Ir a um show e ver o artista ao
vivo não parece suficiente. Aquele estado hipnótico de viver a magia de um belo
show é entrecortado pelo visor dos “I” (iphone, ipad...) É preciso compartilhar
instantaneamente com os milhares de amigos virtuais. O que mais se vê nos
teatros e até nos cinemas (pasmem!) são as luzes das pequenas telas piscando
por todos os lados. Há uma compulsão de
estar em todos os lugares ao mesmo tempo. É gente conectada, hiperconectada em
todos os cantos.
Cenas comuns nos restaurantes: a
conversa vai começar a rolar, é um pequeno grupo de amigos, chegam todos animados,
pois há tempos não se encontravam. Mas mal sentam e o papo que ainda nem rolou
é logo interrompido. Cai a conexão. Os olhos já não se olham, perdidos cada um
em sua telinha colorida. Um recebe mensagem no celular – urgente deveria ser.
Precisa responder e parece que lhe surge assunto mais interessante, pois sua
cabeça fica lá, abduzida. A mente ruma para outro espaço, a alma vai para um
mundo muito distante. Outro fotografa a mesa e mergulha no seu Face para postar
imediatamente as imagens daquele momento precioso, que se vai perdendo, se
esvaindo nos minutos perdidos. É preciso ser instantâneo, imediato, tudo parece
urgente, menos os assuntos que poderiam ter rolado e que acabarão ficando mais
uma vez pendentes.
O cenário dos restaurantes parece
fazer sua parte na conspiração para romper diálogos e impedir encontros. As
pessoas falam em alto volume, todas juntas, num burburinho confuso e
ininteligível. Quando por milagre se consiga capturar a atenção da pessoa ao
lado, é quase impossível ouvi-la, pois tudo a volta é ruído ensurdecedor. Também
não se consegue ouvir a piada que detona uma profusão de gargalhadas na mesa
maior, ao fundo da sala.
Noutra mesa, indiferente a tudo e
a todos, um jovem casal aguarda o jantar, acompanhados cada um de seu Iphone.
Enquanto não chega a comida, nada de conversa, nem troca de olhares, nem farpas
de ciúmes, nem carinhos sutis; cada um acaricia a tela do seu aparelho e joga
algum colorido game. Como crianças grandes, não querem largar o brinquedo. Como
crianças muito pequenas, não sabem nem querem jogar um com outro, estão ali, na
mesma mesa, mas não brincam juntos. O que mais se vê, por todos os lados é
gente conectada a outros mundos, às nuvens da internet, aos assuntos pendentes
nas redes, penduradas em várias conexões.
E assim, como diria Vinicius de
Moraes, se vivo fosse: de repente, não mais que de repente, vai se fazendo do
amigo próximo o distante e da vida uma aventura errante. De repente, a todo
instante, cai a conexão que aproximava os que estavam perto e encantava os que
se reencontravam. A vida vai sendo dizimada em seus minutos, horas, dias,
engolidos pelo buraco negro da vida virtual. A existência real, em alma, em carne
e osso; a vida fugaz em seus dolorosos dramas e graciosas comédias se esvai,
preenchida com vazios passatempos, devorada pela compulsão ao entretenimento.
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