Na velocidade fulminante dos dias, chega mais
uma data de celebração e mal há tempo para pensar. A pressa faz buscar doces
agrados aos mais queridos ou rapidamente aprontar bagagens para aproveitar o
feriado em mais uma viagem alucinada, sem nem se lembrar do significado da data
celebrada. Aliás, significações andam em
baixa, esquecidas, deixadas para trás, encobertas por coisas e loisas. Num
tempo devorado por preocupações, afazeres ou distrações múltiplas, há pouco espaço
para reflexões. Para a maioria, a vida não está fácil. Porém e é exatamente por
isso, por ser uma fase bicuda de dificuldades, que ainda mais se carece de
pausa, de uma trégua para reflexão e transcendência.
Num mundo crivado de atrocidades
de todos os tipos necessitamos alimentar a fé, fortalecer o espírito, seja lá
da forma ou do modo como o concebamos. Só
entendendo a vida numa dimensão mais ampla poderemos encontrar ancoradouro para
esperanças alentadoras. A ressurreição de Cristo ou a passagem dos judeus inspiram
renascimento, superação, passagem para uma fase mais auspiciosa. Esse é o
espírito que precisa emanar das pessoas neste final de semana de Páscoa,
semeando entendimento, harmonia, paz, solidariedade e amor. É algo difícil de alcançar, pensarão uns
tantos. É, pode ser difícil, mas não é impossível.
Dirão os mais céticos e os mais
teimosos pessimistas que de boas intenções o inferno está cheio, por isso serei
mais insistente e enfática. Não é preciso ser crente, bem ao contrário, basta
pesquisar um pouco para confirmar que até a cética ciência dá crédito ao poder
transformador do pensamento. Por isso aqui vai um convite: vamos dar uma trégua
às tantas coisas ruins e abrir a alma para o verdadeiro espírito da Páscoa?
Proponho um armistício pascoal, um cessar-fogo pessoal aos tantos conflitos que
perturbam nosso cotidiano. Fazer deste dia uma celebração significativa e
autêntica, capaz de fazer brotar os melhores pensamentos, as mais dignas
intenções. Só por hoje, apenas hoje, vamos rechear o dia com bons pensamentos e
boas atitudes. Nem que seja só por hoje, já será um grande começo, um sinal de
transformação. Grandes mudanças começam assim, semeadas esporadicamente por uns
poucos.
É apenas com esse espírito que
realmente se poderá saborear a Páscoa com o legítimo sentido de celebração. Vamos,
portanto, adoçar as esperanças, cultivar alegrias, semear coisas boas. Afinal,
as amarguras e durezas crescem sozinhas, como ervas daninhas.
E porque a vida não é feita só de
alma, vale também lembrar os doces mimos ao corpo, a refeição especial, o
chocolate, para os que têm e podem. Mas
que não se faça dessa parte a mais importante e não se exagere na dose, coisas
comuns de acontecer. Saborear é
degustar, sentir o gosto, diferente de devorar, engolir inteiro. Por isso, uma sugestão: aproveite a Páscoa
saborosamente, sem indigestos excessos. Com essa idéia de celebração ao
renascimento que faço votos de uma Feliz Páscoa a todos os leitores, seus
amigos e familiares.
(publicada Jornal Agora em 04/04/2015)
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