O início de todos os anos costuma
chegar acompanhado de despesas extras e sufoco no orçamento. Férias, restos a
pagar do Natal e das festas de final de ano, mais uns tantos impostos fazem
parte do tradicional pacote de todo início de ano. É sempre assim, mas neste
ano veio num formato de mau presságio. Como numa conspiração para tirar nosso
sossego, a cada dia chegam notícias de mais aumentos de impostos e de preços.
Enquanto o país das maravilhas luxuosamente
se apresenta nas avenidas do carnaval ao compasso da moda ostentação, a vida
segue e as contas correm soltas neste mês tão escasso de dias quanto de
dinheiro. Diferente das fictícias contas de nossos governos, o orçamento
doméstico é real e até cruel. É matemática básica, pura e simples: somam-se
contas e mais contas; ao final se subtrai o total da riqueza que se possua. Com
certa freqüência o saldo é negativo exigindo habilidade de malabarista para
equilibrar as contas e tocar a vida adiante. Usar cheque especial, pagar com
cartão de crédito, pedir dinheiro emprestado... O que fazer? Algumas
propagandas sugerem como maravilhosa solução para esse aperto momentâneo que se
faça um empréstimo consignado de longo prazo, assim se pode trocar a
dificuldade aguda de hoje pela longa agonia de mais um compromisso mensal. E há
quem caia nesse canto da sereia e mergulhe ainda mais rumo ao fundo do poço das
dívidas.
Para quem viva do próprio
trabalho ou da aposentadoria e tenha bom senso, a solução não é doce e nem
mágica. O orçamento não é uma peça fictícia, como os orçamentos governamentais.
É algo concreto, real. Se nos estão tirando, ano a ano, o valor de nosso
trabalho ou de nosso salário – e estão. Se não temos como fabricar mais
dinheiro, e honestamente não temos. Só nos resta uma saída: apertarmos os
cintos, pois o nosso dinheiro está sumindo e é preciso conseguir viver com o
que se ganhe. É preciso cortar as despesas, como tanto falam, mas não fazem,
nossos governantes. Trata-se de questão de sobrevivência, não somente
financeira, mas também psíquica. Difícil ter saúde e quase impossível ser feliz
estando endividado. Portanto, para sobreviver a mais este período adverso, a
receita é apertar os cintos, cortar todos os gastos desnecessários. Trata-se de
um grande desafio já que a ordem das necessidades vem sendo duramente invertida
em função do hiperconsumo, desse modelo que tem seduzido com a ilusão de que a
felicidade pode ser encontrada no universo das compras. Pelo menos neste
aspecto a crise pode ser útil dando um choque de realidade e resgatando a
importância do que realmente vale à pena. Para isso servem muito bem as crises
e sofrimentos: são oportunidades de aprendizado, de crescimento. Às vezes, só
se consegue mudar hábitos e transformar padrões à força da ordem da necessidade. Está precisando caminhar, mas não acha tempo
e costuma ficar passeando de carro até achar uma vaga de estacionamento? Agora
é sua chance: deixe o carro em casa ou ao menos estacione tão logo encontre um
espaço e siga o resto do caminho a pé. Assim a preciosa gasolina será poupada.
Não consegue segurar os gastos com o cartão de crédito, deixe-o descansando em
casa quando sair. Atitudes meio radicais como essa podem ser indispensáveis
para quem sinceramente deseje fazer ajustes no orçamento. Do contrário, pode
até ficar acompanhando seus gastos na planilha do Excel, mas só verá crescer o
pelotão das contas a pagar e o dinheiro sumindo antes, bem antes, do final de
cada mês.
(publicada Jornal Agora - 21/02/2015)
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