Há não muito tempo, por obra de acaso em meio a um estudo, neurocientistas da Universidade de Parma
(Itália) descobriram os neurônios-espelho. O
sistema desses neurônios é ativado pelo simples fato de se ver determinada
ação, reagindo e acionando a área cerebral correspondente, como se estivesse
fazendo a mesma coisa. Estudados pelos
mais modernos métodos de mapeamento cerebral, hoje se sabe que há neurônios
espelho em várias áreas do córtex e que eles estão envolvidos em atividades
importantes como o desenvolvimento da linguagem, a compreensão dos gestos
lingüísticos e a compreensão da intenção da ação que visualizam. Juntamente com outros grupos de neurônios,
eles são responsáveis pela empatia, que é a capacidade de conseguir entender e
sentir emocionalmente o sentimento de outra pessoa. Altruísmo, generosidade,
solidariedade e outras nobres ações humanas dependem dessa capacidade de
empatia, que se há uns falta, afortunadamente, outros tem de sobra.
Patologias graves, como psicoses
e autismo, estão associadas a falhas severas no sistema dos neurônios espelho
levando a profundas dificuldades de compreender emocionalmente a ação das
outras pessoas. Há pessoas, entretanto, nas quais a falha do sistema não chega
a nível psicótico, mas provoca dificuldades no convívio interpessoal por sua
frieza emocional ou indiferença moral. É o caso dos golpistas que conseguem com
naturalidade envolver e ludibriar outras pessoas por não sentirem mal estar
pelos danos que estão provocando. Mas também é o caso de pessoas que apenas não
conseguem entender sentimentos alheios: os imprudentes verbais, as pessoas
inconvenientes, egoístas, egocêntricas e outros tipos humanos que por aí
circulam sem carimbo de patologia, mas provocando danos a uns e outros. Culpa da falha de seus neurônios.
Saindo da patologia e adentrando
ao social no qual estamos todos inseridos, a neurociência poderia oferecer
revolucionárias alternativas à sociedade. Sabendo-se, como hoje se sabe, como o
cérebro é capaz de reagir e repetir a ação do outro, espelhando-a, não seria o
caso de se repensar a forma como se aglutinam as pessoas?
Se juntarmos pessoas de má índole
com gente ainda pior, o que poderemos esperar? Obviamente, a maldade se potencializará
pelo convívio com pessoas semelhantes. Exemplo disso é o modelo medieval de
genérico encarceramento de criminosos que fracassa na função corretiva e mais
ainda no objetivo pedagógico. É um resultado óbvio diante de um sistema
estruturado em avesso ao bom funcionamento da mente e do comportamento humano.
Não dá bons resultados e nem poderia se esperar que desse.
Pela forma como funciona nossa
mente e pelas conseqüências sociais da ação dos neurônios espelho, também não deveria
causar espanto que as pessoas se tornem tão iguais quando afinem o convívio,
como acontece tanto com presidiários como com nossos políticos. Eleitos para
nos representarem, deixam de espelhar nossos anseios tão logo mergulham nas
confortáveis águas do poder. Literalmente exilados da vida cotidiana normal,
inseridos em ambientes “diferenciados”, laureados por privilégios de todos os
gêneros, as “excelências” adquirem não apenas novos trajes, mas novos modos de
ser e de pensar. É a ação dos neurônios espelho, reagindo apenas ao que aos
olhos vêem e não enxergando o que o coração não sente. Gentileza gera gentileza;
esperteza gera esperteza... Culpa dos neurônios espelho.
(publicada Jornal Agora - em 25/07/2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário