Dentre as tantas coisas
esquecidas nos porões do passado estão os conselhos e os bons exemplos. Esta é
uma época em que valores e comportamentos são balizados pelas atitudes escandalosas
das celebridades do momento. Para nossa pouca sorte, sucesso nada tem a ver com
inteligência e menos ainda com sabedoria. Daí, essas pessoas de sucesso
meteórico, alçados a nobre condição de formadores de opinião, muitas vezes esboçam
pensamentos miúdos e são protagonistas de comportamentos lamentáveis.
Por outro lado, no seio das
famílias, os pais se ocupam de quase tudo, animados com a ilusão de oferecer
aos filhos uma vida sorvida na plenitude de eternas diversões. Bem poucos se
preocupam de forjar valores em sua prole, oferecendo-lhes bons exemplos de vida.
Os avós deixaram de ser a referência em sabedoria e experiência. Alguns estão
ainda comprometidos com a profissão, sem tempo para cuidar ou conviver com
netos; outros vivem a juventude tardia da terceira idade festiva, sem disposição
para suas crianças. Os que conseguem tempo para oferecer, muitas vezes se
deparam com netos que não querem mais ouvir velhas histórias, muito menos saber
de conselhos sábios ou bons exemplos, abduzidos que estão pelo mundo da imagem,
pelos estímulos de videogames, pelo universo da tecnologia.
Já os professores, tão mal pagos, quanto excessivamente
ocupados, não conseguem remendar as falhas deixadas pelas famílias. Desvalorizados
social e economicamente, deixaram de ser modelo para seus alunos. Para piorar o
que já estaria ruim, somos todos, de todas as faixas etárias, envolvidos por
noticias que dão conta de constantes e chocantes maus exemplos ensejados por
aqueles que deveriam ser os melhores dentre os melhores de nós, representando nossas
maiores virtudes. Mas, bem o contrário, todos o sabemos, nossos representantes
são o retrato fiel de nossos piores defeitos.
Nesse desalentador cenário, eis
que, de súbito, nos surge um Papa que se ocupa de semear bons exemplos, atento
até a pequenos detalhes. Porque se preocuparia ele de não usar excessivos luxos
e confortos? Que diferença lhe faria desfilar numa limusine suntuosa, dormir em
suíte presidencial e gozar outros requintes? Pois é bom pensar – e esse é
momento oportuno para refletir - que há vários motivos para tal atitude. O
primeiro, possivelmente, é porque o Pontífice seja um homem de alma simples.
Por sua genuína simplicidade, pode – sem esforço e com absoluta naturalidade –
fazer escolhas que para gente bem menos importante seria um sacrifício, senão
um sacrilégio. Se, antes de ser Papa, seus comportamentos eram da esfera
privada, hoje são públicos e por isso de grande relevância. Como líder
religioso máximo e como chefe de estado é uma referência. Diferente de
praticamente todos os demais lideres políticos ou religiosos, Francisco tem
honrado a importância de seu papel, sendo coerente com sua índole e com a importância
do lugar que hoje ocupa. Com a alegria e a alma tranqüila dos justos está
semeando bons exemplos com atitudes de simplicidade e desapego às riquezas
materiais. Infelizmente – sejamos realistas – é árido o terreno de nosso país,
tão mal acostumado a ser aviltado pelo abuso ostensivo daqueles que deveriam
nos inspirar e honrar. Resta desejar – quem sabe orar reza forte – que o
semeador de bons exemplos possa operar o milagre de fazer vingar novos valores
e ensejar uma onda de melhores comportamentos.
Publicado em 28/07/2013
Publicado em 28/07/2013
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