Este será um domingo diferente,
um dia de 23 horas. Se para muitos passará despercebido, para outro tanto de
gente parecerá ser um ultraje, uma ofensa, um roubo. Isso acontece porque há
pessoas que vivenciam essa troca como se experimentassem a síndrome da mudança
rápida do fuso horário (chamada de “Jet lag”). Só que na Jet lag é preciso
cruzar pelo menos dois fusos, o que quer dizer, que haja no mínimo uma
diferença de 2 horas. Uma hora não costuma dar sinal algum. Aliás, para
vivenciar essa alteração de uma hora de fuso não é preciso carimbar passaporte
nem cruzar oceano, basta fazer o banal vôo de São Paulo a Campo Grande, no MS:
uma hora de vôo e uma hora de fuso. É até curioso, dependendo do sentido; se
embarca num horário, voando durante uma hora e chegando exatamente no mesmo
horário à cidade destino, o que representa um ganho para quem deseja melhor
aproveitar a viagem. Quem já passou pela experiência, bem sabe que não há
dificuldade alguma, mesmo que poucos dias depois se alterne o percurso – como
costuma acontecer aos viajantes.
Os sintomas da rápida mudança de fuso variam
dependendo do sentido em que se esteja viajando, se é “acelerando o dia”,
voando em sentido anti-horário, ou o contrário, voando no sentido horário e
aumentando as horas de um dia. Ainda podem ser influenciados pelo horário da
partida, número de fusos cruzados e pela suscetibilidade individual do passageiro.
A mudança do fuso oficial, feita
sempre em noite de sábado para domingo, não precisaria gerar demorado sofrimento
nem produzir indignação. Afinal de contas, os dias de domingo são normalmente
vividos com rotinas diferentes dos demais dias, inclusive em relação ao sono e
a vigília. Isso facilitaria a adaptação. Mas parece que argumento algum consegue
impedir que uma grande leva de gente proteste. Os que mais reclamam fazem parte
do heterogêneo batalhão dos descontentes crônicos, pessoas que tem na
reclamação um hábito, uma forma de ser, praticamente um estilo de vida. Protestam
contra a troca de horário e também reclamam das alterações do calor, do frio,
do vento, dos dias abafados. Reclamam do excesso disto, da falta daquilo. Reclamam,
reclamam, reclamam... Alguns passam todo o verão lastimando a mudança de
horário, tecendo uma ladainha de saudade do horário antigo. Para piorar a
situação, quanto mais reclamam, mais sentem o desconforto relatado, pois
retroalimentam o cérebro com a permanente atenção a seu mal estar. Talvez fosse
de bom proveito saberem que a percepção que temos de nosso corpo e das
situações que o cercam são profundamente afetadas pelas idéias que levamos na
cabeça. Se estiver quente e ficarmos lembrando nossa mente disto, a todo
instante, mais calor sentiremos. Se a noite foi curta e passamos o dia a
blasfemar contra a mudança de fuso, apenas sentimos maior cansaço e sonolência.
O tempo cronológico é uma
cadência percebida de modo sempre relativo, sensível a nosso bom humor ou
descontentamento. A hora “roubada” neste final de semana não nos fará falta e
se dissipará no correr dos dias. Esse despertar uma hora mais cedo, além de
promover economia energética, pode nos oferecer o benefício de melhor
aproveitarmos os primeiros raios de sol das manhãs da primavera e do verão, sem
para isto precisarmos madrugar.
A vida é uma passagem, somos
todos viajantes e mudanças de fuso fazem parte de nossa existência.
Publicado 19/10/2013
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