Neste final de semana, as ruas da
cidade serão invadidas por tropas farroupilhas e a alma gaúcha trajada de
pilcha e se cobrirá de orgulho. A Revolução Farroupilha será lembrada e
reverenciada como insígnia de nossa identidade gaúcha, forte, aguerrida e
brava. Pouco nos importa se perdemos a ímpia e injusta guerra, pois fundamos
ali o espírito de nosso povo, que fez da virtude seu lema no emocionante hino rio-grandense.
Sem adentrar aos meandros
históricos ou deles saindo por absoluta falta de autoridade no assunto, me
aproprio da questão das guerras perdidas, mas vou para o campo das batalhas
pessoais. Do ponto privilegiado em que estou eu, já enxergando o dobrar da
sexta década da existência, consigo ter uma ótima visão histórica pessoal,
Enxergo o rastro dos confrontos vividos e os frutos colhidos. E é daí que me
sinto uma autoridade no assunto referente a guerras perdidas. Lembro, por
exemplo, quando me enveredei na luta por políticas públicas. Levei até tiro
amigo, perdi muitas batalhas e um importante quinhão de preciosas esperanças.
Mas, para não deprimir, vou saltar do bonde das recordações particulares, para
chegar ao que considero ser o mais rico acervo de minhas memórias e que me faz
poder bem refletir sobre o que aqui escrevo.
Tendo acompanhado muitas histórias
de vida por quase trinta anos de profissão, o que mais vi e ouvi foram batalhas
perdidas. Quem me procurava na clinica não vinha se enaltecer de suas vitórias,
mas chorar decepções, fracassos, frustrações, perdas. A vida que passa na clínica psicoterapêutica
é um retrato bastante fiel da vida humana, vista pelo viés psicológico de quem
a sofre. O terapeuta é uma testemunha das dores e agruras da existência. Há
pessoas que lutam brava e teimosamente diante de situações que sempre lhes
adversas, sem jamais encontrarem o alento do vento a favor, o conforto da
vitória revigorante. Pessoas que nunca alcançaram o reconhecimento de seus
méritos, jamais conseguiram ter valorizadas suas virtudes. Há os que elegeram
como meta de vida o amor, opção mais genuinamente feminina, e que não cansam de
buscar a felicidade numa alma gêmea nunca encontrada. Em cada história de vida
o relato de batalhas perdidas no campo do amor ou do trabalho ou ao longo da inteira
vida.
Se muitas vezes é preciso teimar
na luta, continuar na batalha, há momentos em que a única alternativa honrosa é
a rendição. Como no jogo de xadrez, em que, percebendo como perdida a partida,
é mais inteligente, sábio e nobre que o enxadrista perdedor deite seu rei,
concedendo e reconhecendo a vitória do adversário. É assim que, honrosamente,
se faz na vida quando, após gastar todas as energias, queimar todos os
cartuchos, se reconhece como perdida a peleia, independente dos méritos que se
tenha ou do tamanho da injustiça que isso envolva. Na rendição se perde a
batalha ou a guerra toda, mas se salva a dignidade.
Neste
Vinte de Setembro que se mantenha acesa a chama das lutas, mesmo inglórias, que
ajudam a forjar em nossa alma a sabedoria de não se entregar aos ardis da
vitória a qualquer custo.
(publicada no Jornal Agora em 19/09/2014)
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