Conheço um razoável quinhão da
natureza exuberante de nosso país, que tão poucos brasileiros conhecem. Fui descobrindo
aos poucos, ao longo do tempo, seguindo oportunidades que o generoso destino me
ofereceu. Assim conheci encantada a Amazônia, as grutas de Bonito - MS, os Lençóis
Maranhenses - MA, único deserto com água doce do mundo. No acervo de minhas
memórias estão a praia de Jericoacoara – CE, quando recém chegara a luz
elétrica e ainda se parecia a um vilarejo de pescadores; a magnitude das
Cataratas de Iguaçu; o litoral paradisíaco do nordeste e outros muitos lugares.
Em nenhum, porém, vivi uma experiência tão impactante quanto a que vivenciei na
até então para mim desconhecida Pirenópolis - GO, a qual fui levada para fazer
um curso, em tempos pré-internet.
No único intervalo dos trabalhos,
fui de bicicleta visitar as cachoeiras próximas ao hotel. Era um parque ao qual
cheguei após 10 minutos de trajeto em estrada de areia e pedras, entre subidas
e descidas. O funcionário que me recebeu ofereceu um folheto guia, deu breves
informações e disse que eu não encontraria ninguém na mata naquele horário, o
que me deixou uma sombra de apreensão. Tão logo adentrei a trilha, porém, fui
sendo possuída por um sentimento de intensa alegria, de uma felicidade profunda
que invadia minha alma e parecia entrar pelos poros. A felicidade era tanta,
tão grande e forte que comecei a rir sozinha. Num primeiro momento fiquei até
desconfiada de mim mesma. Estaria enlouquecendo? Que sensação era aquela?
Estava vivendo uma fase de percalços antes da viagem, o que tornava ainda mais
esquisita tão súbita felicidade. Não usava drogas, não tinha tomado remédio
algum e me sentia assim, de repente, tão feliz a ponto de rir sozinha. A
estranheza, porém, foi deixada de lado tão logo alcancei a primeira da série de
sete cachoeiras. Era a menor, mas o contato com as águas geladas e cristalinas
retirou como que por milagre a dor que sentia nas pernas, fruto do esforço de
bicicleta. A partir dali, segui descobrindo cada uma das cachoeiras ao longo do
caminho, até alcançar a última, a mais alta. Ela surgia em uma clareira e a
água caia como se viesse do céu. O sentimento de felicidade foi ainda mais
absoluto, pleno e transcendente. Sentia a presença superior, Divina, em tudo
que me envolvia naquele momento e precisei agradecer. Senti necessidade de
agradecer do fundo da minha alma por estar ali, por toda a Natureza perfeita
que estava a minha volta.
Após viver esse momento de júbilo
absoluto, em que parecia que o próprio tempo havia parado, retornei radiante. Reencontrei
na descida os colegas de curso, quando ainda iniciavam a caminhada. Resolvi refazer
o caminho, tão feliz e energizada que estava. Agora, porém, a experiência foi
outra. O burburinho das vozes, dos risos, das conversas, pareceu espantar a
magia que antes existia. A mim restava apenas comparar as duas experiências,
confirmando que algo extraordinário acontecera comigo. Ao retornar da viagem e
contar minha vivência, uma amiga me falou que eu tivera uma experiência mística
com os seres elementais, os espíritos da natureza. Que a alegria que eu sentira
era porque esses seres invisíveis – que eram como crianças - me haviam
envolvido. Por mais cética que eu fosse, não havia como não acreditar, tendo
vivido o que eu vivera.
E porque passei a acreditar nos espíritos da
Natureza, tenho hoje a alma triste pela catástrofe provocada na região do Rio
Doce, mas não quero falar dessa tristeza. Desejo que leiam esta crônica como uma
exaltação às maiores riquezas do Brasil e como um convite a que conheçam as
maravilhas naturais de nosso país, antes que acabem, destruídas pelo turismo
predatório, pela ganância e pela insensatez humanas.
(publicada no Jornal Agora - em 28/11/2015)
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