Numa viagem de carro pelo Uruguai, certa vez me vi perdida em Punta Del Leste e recorri a ajuda de alguém que passava pela rua. Com a tradicional solicitude dos irmanos, a pessoa me indicou determinada direção, informando que após certo trecho encontraria uma rambla e estaria na saída. Andei, andei, andei e como não encontrei tal rambla e fiquei envolta na dúvida do que seria efetivamente uma “rambla” pedi outra informação. O novo informante me remeteu para a direção inversa daquela que eu vinha – aonde também eu encontraria uma “rambla”, fazendo-me retornar todo o trecho que já percorrera e mais um pouco. Voltando a estaca zero sem encontrar a saída, mais uma vez pedi socorro, mas para aumentar minha confusão, a direção indicada era novamente inversa e assim, entre vais e vens, levei mais de uma hora para sair da cidade. O problema era que cada informante partia de um determinado “norte” ou pretendia me ajudar indicando saída diferente da que fora sugerida anteriormente. Estavam todos certos – menos eu, que nunca chegava ao destino pretendido.
Essa foi uma pitoresca e exasperante experiência de sofrer por excesso de informação, problema dos mais comuns na era em que vivemos. Aos que confiam na tecnologia, pode parecer seguro se amparar nas indicações do GPS, mas o tal aparelhinho sai do ar, normalmente no momento mais complicado da viagem ou simplesmente em alguns trechos parece ter enlouquecido ou resolvido fazer pegadinhas informando rumos absurdamente equivocados.
Na era dos excessos, tornou-se normal encontrar centenas de milhares de informações, quando se deseja encontrar apenas uma que nos esclareça e nos ajude. Se buscarmos na internet, somos bombardeados por milhares de possibilidades. É um universo tão amplo que precisamos definir coordenadas de pesquisa. Mesmo quando nem estamos procurando coisa alguma, basta ligar a TV ou ler o jornal para encontrar informações variadas e contraditórias sobre assuntos que de algum modo nos envolvem. Em relação à saúde, o mais cotidiano dos exemplos, padecemos de orientações que variam constantemente: a margarina ganha a preferência saudável em relação à manteiga num ano e no seguinte perde sua posição de ordem. Devem-se beber oito copos de água, religiosamente, todos os dias? Ou seriam seis copos? Não seria mais sensato ouvir a sede do próprio corpo do que inundá-lo com a água prescrita nas mutantes pesquisas científicas? Os especialistas divergem e acabam mais confundindo do que esclarecendo.
Peça sempre uma segunda opinião, dizem os prudentes diante de um diagnóstico do médico, do mecânico ou do eletricista. O problema é que a segunda opinião dificilmente coincide com a primeira, fazendo surgir a necessidade de se buscar o desempate em mais um parecer. Ironicamente, a terceira opinião consegue divergir das duas anteriores, ampliando o território das dúvidas e remetendo para novas alternativas. No final, ou se escolhe seguindo a própria cabeça – ainda que por sorteio ou palpite – ou se ficará a buscar indefinidamente novas opiniões.
Estamos norteados por uma avalanche de informações. “Não estamos perdidos, apenas temos vários nortes”, foi o lema de uma campanha publicitária antiga. É. Não estamos perdidos, mas embaralhados, confusos e com cada vez menores certezas. Precisamos definir e não perder de vista o nosso próprio norte para conseguirmos nos salvar da deriva de informações desencontradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário