(Publicada Jornal Agora
Caderno Mulher interativa
11/10/2008
Esta foi uma semana intensa em notícias - boas e más, como costumam ser as notícias. O mundo foi sacudido pelo destempero do senhor mercado que, com sua ganância febril, provocou radicais mudanças de cenário. Mas por esses pagos, nas páginas do jornal e na tela da TV, edito e corto, selecionando os bons momentos dos últimos dias, aqueles que merecem ser preservados. Afinal, já que não dá para guardar tudo, o mais sensato é escolher apenas o que melhor seja.
A cidade protagonizou duas iniciativas originais, fantásticas e muito inteligentes. A primeira foi um chá da tarde que reuniu idosos para ajudarem na identificação de fotos antigas do acervo municipal. Que extraordinária idéia essa de valorizar a memória viva! A experiência foi valorizada no cuidado dos trajes dos presentes, pois a ocasião merecia fatiota. Vivida ao sabor de chá servido em xícaras de porcelana, numa tarde de reencontro com o passado. Os idosos são fonte valiosa de história, mas raramente são convidados a dar seu testemunho. A cena, mostrada rapidamente na TV, mereceria destaque nacional. Esse é o tipo de notícia que estamos precisando semear pelo mundo afora.
Noutra iniciativa, igualmente extraordinária, uma escola pública do Município superou todos os obstáculos e conseguiu que seus pequenos alunos produzissem um livro. Escrever é colocar em funcionamento a usina do imaginário e as crianças estão na fase em que o cérebro, a mente e a personalidade estão em processo de formação. Raramente se vê propostas que incentivem de forma sadia o desenvolvimento. A iniciativa e seu resultado poderão ter ajudado a forjar um futuro escritor, um jornalista, um poeta ou um professor; ou apenas uma pessoa que terá maior encantamento com o mundo das palavras, com o universo dos livros. Alguém mais capaz de lidar com seu imaginário, de fazer leituras reflexivas mais profundas e assim melhor construir seu futuro. Enquanto tanto se fala da crise coletiva de leitura de crianças e jovens, com poucos recursos, mas entusiasmada vontade se conseguiu um grande efeito.
A memória histórica e a criatividade podem ser desenvolvidas e melhor aproveitadas. Para concluir a colcha das boas notícias, vale arrematar com o que encontrei na seção cartas do Jornal Agora: dois agradecimentos pela devolução de carteiras perdidas. Que bom que tem gente que se esforça para devolver intacto o que encontrou. Que ótimo que há pessoas que sabem agradecer, que sentem gratidão e tem sincera vontade de retribuir.
A colcha de recortes que aqui costuro serve para dizer que, apesar dos tantos pesares, o mundo não está perdido. Precisamos apenas resistir à ganância dos que tentam fazer de nossa vida um universo de compras e dívidas. Ainda temos chances de nos libertar do instável castelo de cartas consumista e perceber a grandeza e o poder revolucionário de pequenas ações.
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