Não sei por onde eu andava, mas devo ter perdido um capítulo importante que está me trazendo grande dificuldade de entender certas notícias correntes.
Num tempo em que a juventude parece tudo usufruir, me deparo com as imagens de jovens protestando pela legalização da maconha. A ampla, geral e quase irrestrita liberdade não lhes parece ser suficiente. O mundo tão complexo, carente de gente bem preparada, e essa turma barulhenta querendo tornar legítima mais uma droga para lhes entorpecer. E eu não entendo a eleição dessa questão como uma prioridade. Achava que a onda de legalização de drogas já tinha passado e que a ordem do dia era dada pela geração saúde, que pratica esportes e cuida da alimentação. Devo ter perdido um capítulo.
De outro lado, sai dos altos gabinetes de governo uma cartilha escolar elaborada para ensinar a escrever errado. Já vinha sendo acenado um movimento lingüístico de sumiço das letras, principalmente das vogais. Com o MSN, que quase ninguém chama de Messenger, a comunicação entre as pessoas passou a ser feita através de consoantes. A Língua Portuguesa está sendo decepada. Lembro que antigamente as abreviaturas eram ensinadas no colégio, numa lista que dava muito trabalho decorar e sempre era incluída em provas. Agora? Basta tirar as vogais e está abreviada a palavra: vc, q, qq, td, tvz... Nem no tempo do telégrafo se comiam tantas letras. Está certo que as pesquisas de neurociência demonstraram que o cérebro entende o código rapidamente, mas a transformação vai alterando o modo como nos comunicamos e nos entendemos. Os adjetivos, por exemplo, são cada vez menos usados. As frases são reduzidas ao mínimo, por vezes limitadas a um único verbo, desacompanhado de qualquer complemento. Para que “enfeitar”?
Neste contexto, a proposta do MEC impressa no livro “Por Uma Vida Melhor” encontra muitos defensores que acham dispensável usar – ou aprender – normas de concordância: “os menino pega o peixe”. Entendeu? Então é suficiente. E assim, na base de entendimentos mínimos, vai sendo excluída toda a riqueza do mundo das palavras. A comunicação mínima, que se suporta no momentaneamente suficiente, limita o horizonte do conhecimento, restringe o raciocínio. A escola, que sempre foi a esperança mais tangível para a transformação das condições de vida, agora se propõe a legitimar o errado e mais do que isto, a limitar a capacidade de entendimento dos alunos, restringindo seu vocabulário. E eu que supunha que a função maior da escola era ensinar o certo, divulgar a cultura e estimular a produção do conhecimento. Aonde perdi o capitulo que inverteu a ordem de todas as coisas?
Seguirei procurando o capítulo perdida, na esperança de desfazer o nó de minhas idéias e melhor compreender o cenário dessas e de outras notícias, que nesse momento me deixam negativamente impressionada.
Publicada em 28/05/2011