“Tratem bem a terra.
Ela não foi dada a vocês por seus pais,
mas foi emprestada a vocês pelos seus filhos.
Nós não herdamos a terra dos nossos ancestrais,
mas a tomamos emprestada das nossas crianças. ”*
O mundo treme num mar de vítimas. As diárias notícias de novas tragédias passam a fazer parte do cotidiano. Enquanto muitos se deparam com a falta de tudo, alguns ajudam, mas outros tantos - o grosso das tropas - continuam se divertindo, vendo a banda, a novela, o BBB, o tempo e a vida passar.
Mais um tremor, tsunamis, explosões, dores por todos os lados. Notícias cada vez mais trágicas deixam de serem chocantes. O show não pode parar e, entre notícias sérias, continua o efervescente festival das banalidades. Prossegue a vida de entretenimento, de distrações e passatempos; o jogo do faz de conta dos assuntos triviais. Na TV, num mesmo bloco de notícias são apresentadas cenas trágicas de lugares próximos e distantes; seguidos dos jogos da rodada. Tudo comentado brevemente e colocado no mesmo patamar de importância. Que cresça eternamente o produto interno bruto e aumente o consumo sempre e sempre. Os países seguem competindo na capacidade de produzir cada vez mais, para gastar cada vez mais. O mantra do consumismo hipnotiza consciências e anestesia a capacidade de perceber a realidade. Na ilusão da riqueza a total negação da gravidade do que se anuncia todos os dias.
A Terra adernou 25 graus, mudou seu eixo e, enquanto os especialistas divergem sobre a possibilidade de conseqüências, a orquestra toca animada para distrair os passageiros. Segue a TV em sua programação normal. Foi no Japão, tão distante. Não há com que se preocupar. Foi em São Lourenço do Sul, não foi aqui. Migrações ecológicas começam a acontecer num movimento triste de gente que perdeu tudo e não sabe e nem tem para onde ir. Mas parece que enquanto não estiverem batendo na nossa porta o assunto não nos pertence e nunca nos atingirá. A inundação acontece em nossa cidade, mas se não acontecer na nossa rua, na nossa casa – o assunto não nos envolve. Se as autoridades tão bem pagas para nos representar e resolver as questões coletivas não fazem o suficiente, porque faríamos nós? Quantas ilusões! Quanta alienação!
É tempo de mudar de ponto de vista, de olhar a vida e o mundo a partir de uma perspectiva mais ampla e duradoura. Não herdamos a terra, ela não nos foi dada. Apenas a tomamos emprestada daqueles que nela viverão após nossa passagem, como sabiamente diz o antigo provérbio indígena colocado em destaque ao início desta crônica. Colocando a mão na consciência: temos sido inquilinos negligentes e egoístas. É momento de escolher outras prioridades. Se há saída, ela é pela via de uma vida mais simples, com menos, cada vez menos coisas, menos apegos, menos ambições, menos vaidades. Uma vida com mais senso de responsabilidade. A transformação pessoal talvez represente um grão de areia ou uma gota d’água diante da indiferença geral, porém é de gotas d’água que se formam os oceanos e de grãos de areia que são feitos os desertos.
(*) Antigo provérbio indígena americano, citado no Boletim O Teosofista: http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1123
publicada em 19/03/2011