domingo, 20 de fevereiro de 2011

Feliz Aniversário Rio Grande!

Rio Grande foi fundada no dia 19 de fevereiro de 1737. O Sol estava a um grau de Peixes, o signo astrológico mais universal e místico do zodíaco, quando Silva Paes deu por iniciada a povoação. A Lua estava em Escorpião, em conjunção precisa com Plutão e em uma relação geométrica harmoniosa com Netuno, o deus mitológico das águas e do Oceano. Assim escreve Carlos Aveline, no artigo intitulado “A Teosofia na Origem de Rio Grande”, publicado no WWW.RioGrandeTeosofia.com, concluindo que esses fatores estabelecem uma inclinação para transcendência e para um sentimento de unidade com o Todo Universal, o “Oceano da Vida”.


O fundador, Brigadeiro José da Silva Paes, cuja figura está postada numa estátua na Praça em frente da Prefeitura Municipal, foi um homem de mente aberta, espírito culto e inclinação filosófica. Além de possuir uma biblioteca com livros devotos (comuns ao português oitocentista de boa posição), livros de filosofia, de geometria e trigonometria, de medicina, de cirurgia e de história, participou da “Academia dos Felizes”, no Rio de Janeiro.

Assim, em função da privilegiada localização geográfica, foi fundada a cidade do Rio Grande, num dia em que os astros estavam combinados a seu favor, por um homem muito acima de seu tempo. A fundação foi iniciada pela construção de um forte, cuja planta configura claramente uma estrela de seis pontas, conhecida como a “Estrela de Davi” ou “Selo de Salomão”, que é um símbolo judaico, mas pertence também a cultura oriental, como referido por Aveline no artigo já mencionado, que pode e merece ser lido na íntegra no site WWW.RioGrandeTeosofia.com.

Rio Grande evoluiu, foi capital da província e viveu um ciclo longo de desenvolvimento. Mas a fase das vacas gordas, das variadas fábricas, dos teatros e cinemas, foi sucedida por um sombrio tempo de vacas magras, estagnação e esquecimento, no qual só não foi fechado e mudado de lugar o Porto, por absoluta impossibilidade de ser daqui retirado. O espírito de desesperança foi tomando conta, anestesiando as pessoas e levando a um total esquecimento de tudo aquilo que fazia desde um lugar especial para se viver.

O pensamento se tornou miúdo diante das adversidades e a visão de curto prazo fez esquecer sua origem, sua história e também suas riquezas perenes, como a natureza privilegiada pelas águas do Oceano e da Laguna. Fechando os olhos para o que era importante, a cidade se voltou para dentro, ensimesmou-se: deixou de enxergar sua beleza e sua vocação natural.

O ciclo de obscurecimento, que para os pessimistas era dado como eterno, foi revertido recentemente. Hoje se respira um ar de transformação: a cidade se renova e se expande, para alegria de uns e temor de outros. Se há muitos que criticam e reclamam das mudanças, já não há mais quem possa duvidar de que a cidade se tornará outra num curto espaço de tempo.

Assim funciona e se cumpre a Roda da Vida: vivemos hoje um novo momento e temos o que celebrar. Esse novo ciclo não será eterno e nem perfeito, pois assim são todos os ciclos, mas é um momento especial. Esse Rio Grande pulsa vibrante, transpira vida, renasce, merece nossa coletiva homenagem.

Feliz Aniversário Rio Grande!
publicada  em 19 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Os Descartáveis e a Missão Impossível



     Eram tempos muito remotos aqueles em que a TV exibia, em preto e branco, a série Missão Impossível. Cada episódio começava invariavelmente pela missão a ser cumprida, que vinha em fita gravada num pequeno aparelho. Ao final da audição, uma mensagem advertia de que a mensagem se autodestruiria em cinco segundos, o que acontecia com a fita virando fumaça, num pequeno incêndio. Quando o mundo era feito de coisas concretas, tudo funcionava a olhos vistos, na dimensão da materialidade. Assim, a fita incendiada sumia, se dissipava em nuvem e nem se pensava para onde iriam suas partículas. Elas simplesmente desapareciam do espaço aéreo de nossa ingênua consciência.

     A mesma ingenuidade fascinada com o mundo das novidades ficou encantada com o surgimento dos produtos descartáveis. A praticidade era acenada pela facilidade e pela economia de esforços. Até ali, se buscava leite em cambonas metálicas ou em garrafas de vidro, que eram lavadas e passeavam no leva e traz das leitarias, lugares onde se vendia leite e que, via de regra, cheiravam azedo. No mesmo cenário, existiam os armazéns próximos o suficiente para se ir e vir a pé. Com paredes recobertas de armários de madeira e portas de vidro, ofereciam variados produtos a granel, pesados na frente do freguês, embalados na prosa do vendeiro, geralmente um português chamado Manoel ou Joaquim. A conversa fiada pela passagem quase diária era acompanhada pelas sacolas trazidas de casa, pois do contrário não haveria como levar as compras. Era um mundo dinâmico, permeado por trabalhos leves rotineiros que, ao final do dia, promoviam um saudável exercício muscular e gasto calórico.

     Num rápido giro do tempo, avançamos – ou pensamos avançar – para o ciclo dos descartáveis. A preguiça passava a se chamar praticidade e a vida moderna era sinônimo de economia de esforços e diminuição de trabalho. Nada mais de levar e lavar garrafas, carregar sacolas. As sacolas plásticas eram uma benção que se juntava ao espetáculo dos novos mercados super, com mercadorias ao alcance das mãos. Sumiam os românticos armazéns de esquina substituídos pelas compras em lote.

     Passaram-se poucas décadas para se desfazer a ilusão e se revelar a desconfortável verdade. Multiplicaram-se os produtos, transformados em marcas e embalagens de todos os gêneros, que enfeitam prateleiras, seduzem consumidores e depois são jogados na rua, circulam mundo à fora, à céu aberto, exibindo um espetáculo grotesco. Algumas situações são hoje claras demonstrações do esbanjamento desnecessário e da inconsciência coletiva. Um dos mais chocantes, para a sensibilidade consciente, é o uso e abuso de utensílios e enfeites descartáveis em festas de todos os gêneros. Os festejos públicos são ainda mais assustadores: geram em poucas horas toneladas de copos, pratos, talheres plásticos, que extrapolam a capacidade das lixeiras e seguem o curso das ruas, das valetas, dos rios.

     A preguiça-praticidade gerou um mundo no qual o lixo é a maior “missão impossível”: ele está em toda parte e nos mais variados formatos. Pelas conseqüências graves, todos os produtos deveriam levar em suas embalagens a mensagem de advertência: “esta embalagem só se destruirá em 100 anos”; ou outras mensagens mais assustadoras e melhor inspiradas. Nossa geração inteira vai embora e deixará de herança muito lixo para nossos amados filhos, netos, bisnetos, se não tomarmos nossa dose diária de juízo, adotando uma vida simples, reutilizando embalagens e descartando o mínimo. Essa é uma missão possível.
publicada.
 JORNAL AGORA
05 de fevereiro de 2011